03 julho 2007

Gotan Project @ Oeiras: A Tanga do Tango


Gotan Project em Oeiras
Jardim do Marquês de Pombal, Cool Jazz Fest

O regresso dos Gotan Project a Lisboa foi calorosamente celebrado por muitos admiradores que encheram o bonito Jardim Marquês de Pombal em Oeiras para ver e ouvir o resultado de sons do tango dentro de uma enorme misturadora em forma de mesa de misturas onde já não há só electrónica dançável. Apesar de estarem longe do brilhantismo e da originalidade com que se estrearam por cá na Aula Magna no princípio da década, ainda conseguem arrancar bons momentos.

O problema dos Gotan Project foi logo o primeiro álbum. Para quem não se lembra recordemos que o som dos Gotan Project cativou pela originalidade de cruzar tão bem a sensualidade do tango, com a batida dançável. Por cá começou-se a ouvir em rádios mais "alternativas", como a Voxx, singles como o perfeito Santa María (del Buen Ayre), que ainda hoje resulta muito bem ao vivo como se pôde constatar esta noite.
A questão é que para quem na altura andava mais atento foi coleccionando quase todos os temas que mais tarde foram reunidos em formato de álbum, e que originou "La Revancha del Tango". Ou seja, já aí se esperava mais do que uma simples compilação de singles. Ficou-se à espera do passo em frente, enquanto assistimos a mais do que uma passagem pelos nossos palcos com espectáculos convincentes.
Só que o próximo passo nunca aconteceu verdadeiramente, e os Gotan Project preferiram seguir o caminho mais seguro, e mais desinteressante, que foi o de fidelizarem a imensa franja de fãs que os foram conhecendo pelo rótulo de Lounge Music para pessoas com gosto. Digamos que acertaram na escolha já que conseguiram o que queriam; vender discos, e concertos cheios. A nível musical facilitaram e ficámos todos a perder, pois em vez de termos uns Gotan Project a contiuarem a árdua tarefa de dar novas coordenadas ao seu tango, temos uma banda a partir de uma batida continuada, embebida num acordeão preguiçoso, a cruzar tudo o que de mais óbivo há, e nem o rap escapa.

Em palco a postura, e o ambiente visual também mudou radicalmente. Já não temos dançarinos de tango à frente dos músicos, agora em palco todos se vestem de branco de maneira a não atrapalhar os jogos de luzes, entre o azul e o vermelho, e as imagens no fundo do palco que constroem autênticos videoclips em cada canção.

O que é mais improvável; cruzar tango com rap?, o Benfica equipar de rosa?, ou a plateia dos Gotan Project aproveitar qualquer deixa para acompanhar aquela música com palminhas?!
Todas são hipóteses descabidas, no entanto todas elas são realidade hoje como sabemos. O tango com o rap até se safa, mas o público a tentar companhar com palminhos durante 20 segundos pedaços daquela música é uma parolice! Mas o pessoal estava preocupado com o difícil estacionamento do carrinho, houve até quem se pirasse logo do recinto antes de haver encore, tal era a pressa para não perder horas de sono no início da semana de trabalho!
E quem saíu fez mal porque o tema tocado no encore foi o momento alto da noite, juntamente com as passagens por La Revancha del Tango, que começou com as meninas dos violinos a imitarem uma intro de uma canção de Michael Jackson, e acabou com um parabéns a você improvisado a um dos fundadores da banda. Foram largos minutos de excelentes instrumentais muito bem conseguidos.

De resto um belo embrulho para uma prenda já requentada, mas que satisfaz aquela audiência que não se importa de pagar por hora e meia de música quase tanto quanto a "chavalada" vai pagar amanhã no Parque Tejo para ver mais de 6 bandas com discos bem mais actuais.