21 dezembro 2008

Gotan Project no Campo Pequeno

Diz que a classe média tende a desaparecer. Sinais da crise. É mentira.
Diz que os Gotan Project estão a desaparecer. Não parece ser verdade após mais uma visita ao nosso país em que saíram em ombros do lotado Campo Pequeno.

Já muito se falou e escreveu dos concertos dos Gotan Project. São presença habitual entre nós, já passaram pela Aula Magna, pelo Coliseu, ou pelos jardins de Oeiras. O que surpreende é o facto de ainda esgotarem salas mais de sete anos depois de editarem «La Revancha del Tango». Este seu disco de estreia continua a ser o abono do colectivo francês, argentino e suíço. Convenhamos que depois de 2001 o trabalho dos Gotan Project nunca mais despertou os níveis de entusiasmo que o disco de estreia proporcionou, ao ponto de inspirarem outros projectos como os Bajofondo Tangoclub.

O que se viu no sábado à noite em Lisboa foi um resumo da sua carreira, e dos seus concertos. Quem os viu nos outros anos, como é o caso do autor destas linhas, não pode evitar um bocejo em algumas alturas da noite já que o menu é previsível e requentado. Também é requintado, os jogos de luzes, as imagens projectadas na primeira parte do concerto em telas transparentes que tapam a boca do palco, a mudanças dos tons quentes vermelho e negro do cenário, para uma brancura total que dão receptividade a mais imagens que desta vez são projectadas no cenário do palco.

Tudo isto já foi visto, e tudo isto continua a entusiasmar milhares de pessoas. Apetece perguntar onde tem andado esta classe média alta que ontem foi desfilar roupa de marca, vistosas toiletes, e aromas de perfumes caros para a Praça de Touros da capital?

É verdade que sabe sempre bem ouvir temas como «Santa Maria (Del Buen Ayre)», «Queremos Paz», «Vuelvo al Sur», ou «Una Música Brutal», não por acaso todos do disco de estreia, e ver um par competente a dançar tango. Mas musicalmente falando percebe-se que Philippe Cohen Solal, Eduardo Makaroff, e Christoph H. Müller queiram dar por terminadas as operações do chamado electrotango. Não há muito mais por explorar, o conceito está esgotado.
Mas duvido muito que tenha sido a última visita dos Gotan Project.