04 dezembro 2008

Super Bock em Stock Dia 1: Girl Power


(foto: Rita Carmo)

Sucesso garantido logo à primeira! É este o balanço da primeira noite do Festival que convidou os Lisboetas a andarem a saltar entre quatro espaços diferentes pela Avenida da Liberdade. A chuva deu tréguas, o povo aderiu, e os bons concertos sucederam-se entre confirmações, surpresas, e revelações em palco.

Para um conceito de Festival diferente uma abordagem diferente. Hoje o leitor é desafiado pelo escriba a acompanhar o relato da jornada nocturna escolhida pelo Disco Digital. Na impossibilidade de se acompanhar todas as propostas fez-se uma selecção, e desde já revelo que foram escolhas muito felizes.

Comecemos pelo concerto mais aguardado. Muitos foram aqueles que se concentraram na lindíssima sala do Tivoli desde cedo com o único propósito de marcar lugar para verem Santogold. Fizeram bem porque este é daqueles concertos que perdurará no tempo como um excelente espectáculo na hora certa, no local certo. O público está atento aos fenómenos musicais, neste caso vindos dos Estados Unidos da América e encheu o recinto que tinha à sua porta sempre muitos pretendentes a entrarem. Santi White é uma figura do momento. O estilo moderno de cantar por cima de batidas que nos transportam para géneros diferentes como dub, soul, rock, com letras acutilantes, e coreografias a condizer conquistaram Lisboa em poucos minutos. A artista de Filadélfia só precisa de um DJ, e duas «irmãs» nos coros para fazer a festa. Elogiou a plateia, comemorou a chegada de Barack Obama. Terminou a actuação convidando os mais despachados para dançarem com ela em palco, convite que teve boa adesão dando um colorido inesquecível ao fim da memorável passagem de Santogold por cá. Concerto da noite, e um dos melhores de 2008.

Antes tínhamos começado pelo Cinema São Jorge para assistir ao projecto Ladyhawke em palco. A sala cheia denuncia os fãs das derivações musicais que os Cut Copy ajudaram a semear este ano. Tudo se concentra na figura da vocalista neozelandesa Phillipa Brown que desfila com convicção os temas do disco editado este ano bem acolhidos pela plateia que aprovou esta passagem feliz dos Ladyhawke por Portugal. Expectativas cumpridas.

Mudança de poiso. Descemos um pouco na Avenida e entramos na sala pior aproveitada pela cultura da capital, o velhinho Teatro Variedades no Parque Mayer. Ao espanto generalizado entre o público que não conhecia o espaço, e que se interregova como era possível não ter aquele recinto a funcionar em pleno, juntou-se a surpresa generalizada pelo concerto em crescendo dos franceses Caravan Palace. De repente pareceu que aquele Teatro estava à espera de uma banda assim para voltar à vida. Estes gauleses montam uma tremenda festa em palco e contagiam com os seus instrumentais jazzísticos misturados com o novo swing e ritmo cigano que faz o público dançar. A isto acrescente-se o aparecimento de uma vocalista carismática, de belíssima figura, e energia altamente positiva, senhora de uma voz de respeito a fazer jus à tradição de divas francesas. A mistura final é uma grande festa sonora e visual que podia ser tirada da banda sonora de «Les Triplettes de Belleville». A vocalista Colotis Zoé ficará a aquecer a memória, e os corações, dos que arriscaram uma ida ao Variedades. Foram a revelação da noite.

Curiosamente a outra surpresa da noite estava reservada também para o velho Teatro. Depois do arrasador concerto de Santogold, e da boa prestação de miss Ladyhawke, e da surpreendente vocalista dos Caravan Palace, seria outra mulher a brilhar. Desta vez ao som do reggae descobrimos Tanya Stephens. Nascida na Jamaica, é uma das estrelas mais cintilantes do reggae e dancehall. A comprovar a elevada qualidade musical vinda do palco estava a atenta tribo do reggae, caras bem conhecidas de quem anda nestas andanças estavam radiantes na plateia de chão bem inclinado a contemplar as excelentes canções de Tanya que numa noite fria de Outono tanto nos aqueceram. A grande surpresa desta primeira noite.

Depois ainda houve uma tentativa de terminar em beleza ali ao lado no Maxime ao som de El Perro del Mar. Ou seja mais uma mulher a dar cartas, só que a afluência dos festivaleiros foi tão grande que a fila à porta do Maxime esteve imóvel durante largo período de tempo que impossibilitou ver a actuação de Sarah Assbring. Foi pena, mas a noite já estava ganha.

Espera-se que amanhã a colheita seja tão boa, ou melhor. Hoje foi o triunfo do Girl Power!

in Disco Digital