16 fevereiro 2009

Oasis no Atlântico: Dias do Passado Futuro


(foto: Rita Carmo, blitz)

Normalmente estava eu a publicar aqui um texto sobre a passagem dos Oasis pelo Atlântico. Como apareceu um jogo do SLB para a mesma hora tive que vender o meu bilhete e perder o concerto.
No Disco Digital resolveu-se convidar um fã especial dos Oasis a fazer a reportagem. E então aqui fica a crónica de Miguel Ângelo (Delfins):


Oh well, já há muito que os irmãos não se insultam em palco, o Liam ultimamente farta-se de oferecer pandeiretas às primeiras filas e o Noel até pede, encarecidamente, que José Mourinho volte para Inglaterra, mas para treinar o City. Alguém que ficasse desiludido? Não creio, pois aqui sobrou a música.

E sobrou a música aliada a um dos melhores espectáculos de Vjing que passaram por cá, diferente da «vertigem» que os U2 consagraram ou da interferência electrónico-activista que os Portishead propagandeiam: um mar de imagens, animações e captações live da própria banda que misturam o sonho pop do imaginário Yellow Submarine e Monty Python com as paisagens cósmicas do início dos Floyd.

Os Oasis chegam com esta Tour ao espectáculo mais consolidado que alguma vez já apresentaram, juntando temas antigos e emblemáticos com as mais recentes deambulações psicadélicas de «Dig Out Your Soul», num equilíbrio profissional e experimental qb. Se os momentos quase acapella de «Don´t Look Back In Anger» são um clássico que ainda hoje conseguem criar um ambiente único de comunhão, também temas novos como ««To Be Where There’s Life», «Falling Down» e «I’m Outta Time» permitem desenvolver com o público um novo tipo de envolvência, mergulhando-o num oceano de sons mais gentis do que a aspereza do repertório inicial do grupo. Estes são os Oasis de agora, de «Dig Out Your Soul», e, porventura, do futuro.

Com novo baterista, Chris Sharrock, apresentado logo no início por Noel, e mesmo sem os irmãos Gallagher estarem na posse de todas as suas capacidades vocais, os Oasis passearam-se pelos singalongs da praxe como «Wonderwall» e «The Masterplan» e puseram muita gente a pular e a gritar a plenos pulmões os refrões de «Rock´n´Roll Star», «Lyla» e «Morning Glory». E esse é o epíteto perfeito do espectáculo rock que os Oasis, melhor do que ninguém, sabem fazer. Há uma semana atrás, no seu blog do Guardian, o lendário Alan McGee enfatizava que os Oasis eram a melhor banda ao vivo do mundo, porque simplesmente reverenciavam, na sua música e atitude, bandas clássicas como os Stones, os Beatles… e os U2! E quando, uma semana depois, terminam em Lisboa o encore com uma versão sónica superior de «I Am The Walrus», lembramo-nos da famosa quote de Bono antes de se lançar selvaticamente a «Helter Skelter»: «Esta é uma canção que o Charles Manson roubou aos Beatles, e nós agora estamos a “roubá-la de volta“…». Essa é a lição do Passado e do Futuro na música popular.

O facto do Pavilhão Atlântico ter estado muito bem composto por gente de várias idades - e com gente nova, muito nova mesmo, por toda a plateia - ajudou mais uma vez a fortificar a ideia de que existe em Portugal uma quantidade apreciável de público jovem para encher espectáculos de rock, e em especial de um tipo de som que carrega em si a marca forte da tradição da música anglo-saxónica. E de uma cultura que também é nossa. Saúda-se esse facto, já comprovado ultimamente pelo êxito dos Kaiser Chiefs nos Coliseus de Lisboa e Porto.

Na primeira parte, o power trio Free Peace encarnou em 2009 os Cream de finais de 60 - com algumas piscadelas de olho óbvias aos Led Zeppelin - e também deixou no ar um certo sabor a… Passado! Mas com a esperança de um futuro orgânico alternativo ao digital, onde, com muita energia e suor, do velho se fará o novo.