Por Luís GomesA edição de 'Backspacer', o 9.º álbum de originais dos Pearl Jam começou por ser notícia bem antes de ter saído, com o anuncio da forma de lançamento: sem contrato com editora, após a experiência com a Jay Records no disco anterior e dos longos 18 anos de contrato com a Sony Music Entertainment (que ainda rendem na forma de reedições), chegou a decisão de 'Backspacer' ser lançado em edição própria da banda (Monkeywrench).
Os alternativos fãs rejubilaram até ao dia que, umas semanas ainda antes do lançamento a 21 de Setembro, surgem notícias de um acordo com a Target para a distribuição exclusiva e a gravação de um anuncio para a mesma empresa, dirigido por Cameron Crowe... Abrenuncio! gritou-se em uníssono. Está tudo perdido e são uns vendidos!
O manager da banda, Kelly Curtis, teve que sair da toca e acalmar as hostes... iam perceber melhor quando soubessem do modelo de lançamento na sua plenitude. Pearl Jam também é isto... uma comunidade de ouvintes que foi sendo instruída e ouvindo um discurso de pureza ética e moral, anti-industria e anti-comercial, que foi acabando por ter que ser moldado aos tempos modernos... No entanto a imagem de pureza e desinteresse económico vive na cabeça de muitos, e desde que Eddie Vedder se queixou das receitas da venda de discos serem escassas para pagar a dúzia de ovos a 12$, que não se ouviam tantas vozes críticas sobre a 'integridade' da banda.
Finalmente veio a explicação detalhada:
- o disco foi editado pelos próprios sem editora;
- conseguiram um acordo para um só disco, em que receberam uma 'pipa de dinheiro' (citando o guitarrista Stone Gossard), para a distribuição nos Estados Unidos da América ser exclusiva pela Target (que até defenderam como sendo o 2.º maior player e não o maior);
- Mas, conseguiram também algo inédito: que fosse permitida a distribuição paralela por uma rede de lojas independentes, venda pelo Itunes, bem como um contrato paralelo com a Verizon para a plataforma móvel;
- Internacionalmente a distribuição ficou a cargo da Universal.
O tal anúncio para a Target, cujas imagens são também a base para o vídeo do single 'The Fixer', retrata uma gravação ao vivo da canção, com audiência contratada. Este registo vídeo pode ser facilmente catalogado como a coisa mais pirosa que a banda alguma vez fez... sem favor.
A realidade é que o meio está em constante mutação, e entre ideais e oportunidades, garantiram uma forma de distribuição abrangente e tentadora, conseguindo um equilíbrio entre o possível, o ideal e o economicamente vantajoso, sendo que este último ponto continua a fazer muita comichão a quem os segue.
A importância dessa imagem projectada reflecte-se nas entrevistas, repetem à saciedade 'trust us'... 'se passou no nosso barómetro moral, terá que passar no vosso' demonstrando que querem pelo menos manter a 'aura' que os rodeia desde a luta com a Ticketmaster.
Não percam a continuação da História de Backspacer, disco que acaba de chegar a número 1 de vendas em Portugal, contada por Luís Gomes.
Próximo capítulo: os vários formatos editados de Backspacer-
