Na primeira noite de apresentação do espectáculo Circo de Feras, o Campo Pequeno esgotou com fãs vindos de todo o país a invadirem o renovado local passeando desde cedo as t-shirts em que o X era o dominador comum. O álbum em questão foi revisitado na integra, a que se juntaram mais alguns clássicos, e foi o mote sonoro para acompanhar um bem montado cenário de luzes, fogo, acrobacias e muita emoção. Os Xutos & Pontapés a mostrarem porque são uma instituição do rock nacional.
Foto: Rita Carmo
Na zona comercial que envolve o renovado Campo Pequeno não havia espaço para dúvidas, os fãs de Tim e companhia tinham respondido ao desafio e vieram em força exibindo orgulhosamente as camisolas da banda, ou os lenços que são imagem de marca do vocalista. Famílias inteiras serviam-se de comidas rápidas e a boa disposição era visível.
Às 22h as bancadas, e arena, estavam repletas desses fãs que começaram logo a fazer festa nunca deixando de aplaudir, ou entoar cânticos de estádio com letras adaptadas à banda.
O enorme pano do patrocinador principal do evento que tapava a boca de palco cai após alguns minutos de introdução sonora e lá estão Tim, Zé Pedro, João Cabeleira, Gui e Kalu juntos numa parte do palco a tocarem a versão instrumental de «Circo de Feras». É logo na abertura que se percebe o conceito do espectáculo. Os músicos no seu papel e o restante espaço ocupado por coros gospel, um grupo de percussões com enormes tambores, equilibristas, e fogo.
Não se sabe se foi por equívoco ou emoção, mas a verdade é que a primeira vez que Tim se dirigiu à plateia foi com um estranho «Boa noite Coliseu»! Mais tarde agradeceria a presença de todos, e antes do encore Zé Pedro fez questão de pedir aplausos para colaboradores, encenador, e convidados. De resto não houve mais conversa pelo meio de um espectáculo cuidadosamente pensado para a captação de imagens com o objectivo de ser editado em DVD brevemente.
Desta vez, o concerto dos Xutos é muito mais que um desfilar de clássicos; é centrado num disco que faz 20 anos e que marcou a vida de quase toda a gente que ali está a cantar a plenos pulmões as letras todas de «Sai Prà Rua» - o primeiro single extraído deste disco que hoje mais parece um «best of», «Desemprego» - que continua bem actual, «Esta Cidade», «Não Sou o Único», «N`América» - em formato acústico com o o grupo sentado em círculo à boa de palco a fazer lembrar a sessão que gravaram na década passada na Antena 3, «Vida Malvada», ou «Contentores», perante o delírio do recinto.
A noite foi dividida em duas partes com um intervalo pelo meio, como se tratasse de um disco de vinil com lado A e B. A cada tema havia uma coreografia diferente que tanto podia ser um equilibrista a fazer o pino com braços e pernas bem abertas numa cadeira desenhando um X, como podia ser o coro Gospel que acabava a acompanhar freneticamente o repescado «Estupidez», como podia ser uma dupla no trapolim, ou um casal de malabaristas a trocarem bolas no ar sem cair. O Circo é montado à volta dos Xutos, e funciona muito bem. As canções absorvem a atenção de todos, olha-se para as bancadas e temos a prova que os Xutos têm sabido atravessar gerações umas a seguir às outras.
Por exemplo, este vosso escriba que se esforça por relatar os acontecimentos, por alturas da edição de «Circo de Feras» tinha uns inocentes 14 anos, era feliz com mais uma vitória encarnada num campeonato de futebol que contava com equipas como o Salgueiros, Farense ou Elvas, e ouvia o disco vezes sem conta. Foi uma espécie de banda sonora adolescente. Por isso com naturalidade a maioria dos presentes anda na casa dos 30 para cima, mas já vem acompanhada de gerações mais novas, e muitos que esta noite cantavam o «Circo de Feras» são mais novos do que o próprio álbum!
O momento que merece maior destaque é o número em que João Cabeleira sozinho no palco fica a tocar para Laurence Jardin, a atracção maior entre acrobatas. Ela é do Cirque Du Soleil, usa um facto colado ao corpo que dá ideia de nudez, e é um figurão digno de quem já foi Miss França! Enquanto Cabeleira toca, Laurence dança sobre os espectadores içada no ar agarrada por cordas, naquilo que se chama de «Fourstraps». Depois de interpretada a versão clássica de «Circo de Feras» há um encore com dois «hinos». «Para ti Maria», e «A Minha Casinha», que fecham a noite com a adrenalina no máximo.
Hoje há mais, à tarde e à noite.
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