Noite de estreias, confirmações, e revelações, isto tudo perante numerosa afluência de sudoesteanos à semelhança do que tinha acontecido na véspera. Nem o facto de haver transmissão televisiva de jogos particulares de FC Porto e Benfica desviou a concentração de milhares que se entregaram de corpo e ouvidos à estreia dos Cypress Hill, à confirmação dos Buraka Som Sistema no palco principal, e às revelações no palco secundário dos noruegueses Datarock, do atrevimento dos brasileiros Bonde do Rolê, e ainda às boas «vibes» do palco reggae. Com o hip hop, kuduro e baile funk a terem um lugar de destaque, a música de periferias dominou claramente este segundo dia de festival.
Ainda o sol estava alto quando os portugueses Cool Hipnoise subiram ao palco, em substituição do inglês Just Jack. A hora levou a que o público estivesse presente num número reduzido, mas tal não impediu que a receita de funk, soul, reggae, afrobeat e algum hip hop fosse contagiando os presentes. Tal mescla de sonoridades resultou muito bem com o calor que se sentia a esta hora.
Num estilo bem diferente de grande parte dos grupos que actuaram neste dia no festival Sudoeste estiveram os escoceses Cinematics, que durante a sua actuação só faziam lembrar outros escoceses, mas de melhor categoria, os Franz Ferdinand. O indie-rock devedor dos anos 80 deste grupo ao fim de um par de músicas entra numa constante repetição (algo que acontece com muitas bandas deste tipo) e como o público estava ali para ver Cypress Hill e Buraka, as reacções não foram de grande entusiasmo. Já existem demasiadas bandas que querem viver nos anos 80, não precisamos de mais uma.
Se na noite de estreia o reggae esteve em grande no palco principal, esta noite foi o Hip Hop que triunfou. Mas falamos do Hip Hop da velha escola que os Cypress Hill ainda hoje representam muito bem. Passavam 40 minutos da meia noite quando aconteceu um dos momentos mais esperados do Festival, a estreia em Portugal dos Cypress Hill. E é bonito olhar para uma plateia entusiasta de mais de 30 mil pessoas a acolherem tão bem o Hip Hop dos californianos. O facto da multidão reagir bem ao idioma escolhido pela banda para comunicar também demonstra que havia ali muitos fãs sabedores das origens cubanas dos seus ídolos, e não lhes levou a mal a ousadia de se ouvir castelhano durante uma hora e pouco.
Por muito menos os Oasis foram corridos à pedrada há uns anos. Excelente lição de Hip Hop construída à base de grande malhas como «Insane In the Brain», ou «How I Could Just Kill A Man» ou o agitado «Money». A maneira como Sen Dog acabou o concerto, saltou do palco para a primeira fila de fãs sendo resgatado pelos seguranças, mostrou bem a satisfação do grupo nessa sua estreia lusitana.
Ao mesmo tempo que os Cypress Hill se estreavam em grande em palcos nacionais, no Palco Planeta Sudoeste os brasileiros Bonde do Rolê faziam furor com toda a provocação que o seu funk brasileiro possui. Quase toda a performance está concentrada na vocalista Marina Vello, que chega a ameaçar um strip-tease durante o espectáculo. Eles vão buscar samples de Daft Punk, Europe ou Iron Maiden e misturam-nos com as batidas promíscuas do funk e com uma atitude festiva e algo louca que pôs o público que enchia o Planeta Sudoeste ao rubro. Em Maio passado passaram pela Galeria ZDB e já na altura este espaço tinha-se revelado demasiado pequeno para a euforia dos concertos dos Bonde do Rolê, mas agora no Sudoeste tiveram uma merecida enchente, que se entrega aos sons das periferias de corpo e alma (mas mais corpo).
Com derivados de Hip Hop mas apostando tudo no chamado Kuduro Progressivo os Buraka Som Sistema cumpriram o ciclo de ascenção meteórica dentro do espaço sudoesteano. No concerto que marca a despedida da jovem vocalista Petty (16 anos), os Buraka justificaram plenamente a promoção de que foram alvo. Há um ano arrasaram no palco principal, enquanto os Daft Punk estavam no principal, e esta noite fecharam uma das noites do Sudoeste no maior palco contagiando as massas até bem depois das 3 da matina! A multidão podia saber ou não dançar kuduro, isso era irrelevante, o que importa na música dos Buraka Som Sistema é dar ao público uma das maiores festas de música e dança que ele pode presenciar e foi exactamente isso que os Buraka proporcionaram.
É a prova de que vale a pena dar tudo no palco mais pequeno para garantir acesso à subida. Na rampa de lançamento para a consagração da promoção ficam desde já apurados os Wraygunn pelo seu excelente concerto de ontem, os provocadores Bonde do Rolê, e os noruegueses Datarock que devem ter ganho uns quantos fãs com a sua pssagem surpreendente.
O Festival segue para o 3º dia, agora em modo de fim de semana. As enchentes no recinto devem ser para manter.
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