Terminou na manhã de domingo o 10º Festival das Músicas do Mundo de Sines. Uma edição maior em quantidade de concertos e recheada de momentos que vão fazer a história destes 10 dias de música entre Porto Covo e Sines. Unanimemente marcantes foram os concertos da Orchestra Baobab, Bassekou Kouyaté & Ngoni Ba, Asif Ali Khan, e Rokia Traoré que fechou o ciclo de concertos no castelo.
Passava das 8 da manhã de domingo, já o sol ia alto, quando as colunas do palco da praia Vasco da Gama ficaram em silêncio. Terminava assim uma longa maratona de 40 concertos espalhados por vários espaços ao longo de 10 dias. Como já é tradição a multidão não arreda pé até às primeiras horas de domingo por culpa do colectivo de DJ's Bailarico Sofisticado, este com António Pires como convidado especial, que voltou a agitar os muitos resistentes na avenida da praia com a sua selecção musical de ritmos do mundo sempre agitados.
Para trás tinha ficado o último fim de semana de concertos em Sines marcado pela quantidade de oferta, e por um certa desilusão com o fecho da noite de sexta no castelo onde Cui Jian, figura maior do rock chinês, apareceu com um espectáculo deslocado do contexto do evento testando a paciência de todos. Também os repetentes KTU não conseguiram empolgar tanto como aconteceu em visitas passadas. Curiosamente, foi o paquistanês Faiz Ali Faiz que encantou o castelo. Ele que só veio devido ao impedimento burocrático europeu a Asif Ali Khan, conquistou a plateia com o seu canto "qâwwali", a música do misticismo muçulmano que, através da repetição da palavra ("qaul"), procura estimular no ouvinte o contacto directo com Deus ou, para quem não é crente, uma forma superior de experiência estética.
Na praia ao fim de tarde o quarteto feminino vindo do Reino Unido Rachel Unthank & The Winterset cantou e encantou mostrando, e confirmando, a beleza do seu muito elogiado disco "The Bairns".
A fechar a noite ritmos mais dançantes, como se queria, ao som dos Nortec Colective, que moram naquele espaço quente entre o México e os Estados Unidos da América, mestres em agitar os corpos como se sabe ao escutar as sessões editadas de "Tijuana Sessions". Antes os americanos Firewater não foram tão eficazes.
Na última noite de concertos ficou a faltar um fecho apoteótico à luz do tradicional fogo de artifício que noutros anos imortalizou as presenças de Skatalites, ou Gogol Bordello. Para o último concerto do castelo quer-se ritmo, dança, e festa. Mas este ano a agitação foi trocada por um concerto sublime de Rokia Traoré que foi unanimemente elegido pelo público como o melhor de todo o festival. Rokia Traoré é nome a ter em atenção pelos promotores de concertos para as salas do nosso país.
Só o fogo de artifício é que não casou bem com o ritmo mais intimista do triângulo Doran-Stucky-Studer a envolver o jazz com o rock cruzando as origens de cada músico vindos da Irlanda, Suíça e Estados Unidos.
A abrir a noite Koby Israelite, nascido em Israel mas vive em Inglaterra, agitou com o seu acordeão digno do experimentalismo da editora de John Zorn a que pertence, e depois evocou-se o espírito de Jimi Hendrix com
O mesmo espírito prolongou-se na avenida da praia com os americanos Jean-Paul Bourelly e Melvin Gibbs & Will Calhoun, seguindo-se o ambiente mais festivo dos israelitas Boom Pam.
Muita música nova nos trouxe o FMM 2008 criando emoções, mas o essencial continua a crescer além da música, é o ambiente de festa, a comida regional, o sol e a praia, a comunhão entre população e festivaleiros que está cada vez mais enraízada, as amizades que se fortalecem e que fazem destes 10 dias em Sines a melhor festa de música de todo o ano.
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