20 julho 2008

Festival de Sines, Porto Covo noite 2: A improvisação, a palavra, e a festa

Ao segundo dia de Festival em Porto Covo a presença inesperada de uma forte humidade com aguaceiros deu algumas dores de cabeça à organização que teve de resolver problemas nas instalções eléctricas. Nada que abalasse o ritmo do Palco. A noite abriu com a improvisação jazzística europeia entre os Flat Earth Society e Jimi Tenor, conheceu depois a força das palavras dos veteranos Last Poets, e terminou em festa com o italiano Enzo Avitabile à frente dos originais percussionistas Bottari.

Com um atraso de meia hora os belgas Flat Earth Society subiram ao palco. Não é uma banda convencional, são muitos músicos a ocupar todo o palco compondo uma big band liderado pelo compositor e clarinetista Peter Vermeersch, o "Frank Zappa flamengo". A juntar-se ao extenso grupo tivemos o sempre imprevísivel finlandês Jimi Tenor sempre mais dado às electrónicas, mas recentemente interessado pelas fusões mais ritmadas. O resultado foi estimulante com grandes momentos instrumentais a vaguearem entre o ambiente de banda sonora cinematográfica, passando por improvisos jazz, e visitando ritmos mais quentes. Concerto muito interessante.

Depois veio um dos momentos mais aguardados de todo o festival. O grupo lendário Last Poets sobe ao palco em formato de sexteto; Abiodun Oyewole (voz), Umar Bin Hassan (voz) e Don Babatunde (percussões), acompanhados por uma banda constituída por Léo Tardin (teclas), Jamaaladeen Tacuma (baixo) e Shannon Jackson (bateria.
Os dois vocalistas mostraram porque é que passados 40 anos da sua junção ainda continuam a ser o mais respeitado grupo norte americano quando se fala em poder das palavras. Num registo próximo do spoken word Abiodun Oyewole e Umar Bin Hassan vão cortando a instrumentalização fortemente baseada no excelente baixo com um discurso politizado onde nem faltou o incentivo a Obama. Momento emocionante em Porto Covo com os Last Poets a darem excelente prova de vida.

Para aquecer o público que encheu o recinto nesta noite fria de sábado apareceu o curioso conjunto italiano liderado pelo napolitano saxofonista e cantor Enzo Avitabile. Figura maior da música popular italiana, Enzo mostrou grande empatia com a plateia e não teve dificuldade em fazer toda a gente cantar para ele, e dançar muito. Um grande momento foi quando Enzo atacou um dos temas do disco «Festa Farina e Forca» com o seu saxofone e resolveu sair do palco para ir tocar no meio do público que o acolheu em festa. O italiano tem carisma e o facto de ter atrás de si o curioso grupo de percussão Bottari dá ainda mais força e ritmo à actuação. Os Bottari tocam em barris de forma sincronizada seguindo as instruções de um mestre. Durante a Idade Média, os homens de uma pequena aldeia do sul da Itália juntavam-se e, armados de barris (“botti”) e foices, iam para campos e celeiros fazer barulho para afastar os maus espíritos das suas colheitas. Hoje é arte que pôde ser apreciada, e dançada pelo público do FMM que não se cansou de pedir encores.