Diz a canção que não há Lisboa sem fado, nem fado sem Lisboa, e na noite passada a capital homenageou na sua maior sala de concertos o homem que personaliza Lisboa, e dá voz ao fado. Carlos do Carmo teve a celebração que os seus 45 anos de carreira merecem, entre amigos no palco e na plateia, e emocionou-se em cima do palco que, afinal, é a sua vida.
Feliz a cidade que tem a sua própria música para a cantar. Feliz do fado que se expressa através de uma voz reconhecida por todos. Felizes dos lisboetas que podem ver e ouvir o seu fadista maior ao fim de quatro décadas a cantar em grande forma. Felizes, e justos, os lisboetas que sabem homenagear quem tão bem canta a sua cidade. Mais charmoso que nunca, Carlos do Carmo aceitou o tributo e juntou família e amigos para generosamente partilhar um pedaço da sua impressionante carreira com o público que sempre o acarinhou e que respondeu à chamada enchendo o Atlântico.
Além dos fados clássicos que Carlos do Carmo perpetuou na sua voz houve espaço para muitas surpresas. Os conceituados Camané e Mariza, dois valores «feitos» da nova geração, não podiam faltar, a jovem e prometedora Carminho encantou, e de Espanha veio Maria Berasarte para interpretar com ousadia dois fados tradicionais na companhia de Carlos Bica, e José Peixoto, que são do melhor que há na nossa cultura musical. Grandes momentos que empolgaram a assistência.
Mas a noite era de Carlos do Carmo que cantou com a garra de sempre, o olhar sóbrio de sempre, com o humor de sempre, e com o discurso acertado de sempre. Houve tempo para subirem ao palco o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o Presidente da Voz do Operário que comemora 125 anos e que ficou com a fatia do lucro da noite de ontem generosamente patrocinada pelo fadista homenageado, que ouviu emocionado um poema lido por Victor de Sousa.
Uma noite perfeita que terminava de maneira pomposa e vistosa com o palco a ser estendido ao piano de Bernardo Sasseti e à Orquestra Sinfonietta de Lisboa que deram uma textura sonora maior aos grandes fados «Canoas do Tejo», «Gaivota» ou «Lisboa Menina e Moça». E fiquem com o recado sábio do Mestre Carlos do Carmo: o fado de Lisboa não é para se acompanhar com palmas, é para se cantar. Palminhas a acompanhar é uma modernice parva que só encaixa em outros géneros musicais. O Mestre ensina. O Mestre do fado. Longa vida ao senhor da voz de Lisboa!
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