O mundo ao contrárioCorreu muito bem o Festival Winter Jam, o primeiro grande evento dedicado ao reggae realizado este ano. O espaço está aprovado, o pavilhão dos Lombos é um recinto moderno, com boas condições, e de fácil acesso. O povo correspondeu à chamada em grande número dando um excelente ambiente aos concertos da noite que cumpriram o horário previsto. Tudo correu bem.
Importa aqui analisar algumas questões culturais. É que à partida o evento tinha tudo para ser bem sucedido, já que contava com dois nomes lendários da história do reggae, em estreia nacional, que só por si deviam chegar para encher a casa.
O ambiente que se viveu até perto da meia noite, altura em que U-Roy terminou a sua actuação, foi festivo e de consagração. Até aqui era previsível, mas a verdade é que foi com a entrada em palco dos norte americanos Groundation que o recinto encheu de vez, e foi aí que o massivo explodiu cheio de energia, aderindo de corpo, alma, e voz à banda!
Não é que os Groundation não mereçam, mas não deixa de ser curioso que apenas uma parte dos presentes nesta noite reggae vibraram mais com as lendas, do que com o reggae branco.
Falemos então dos grandes senhores. Junior Murvin foi o primeiro a apresentar-se. Está em óptima forma, a sua voz aguda continua intocável e não se inibiu de nos contemplar com clássicos de um dos discos obrigatórios em qualquer colecção de um fã de reggae; «Police & Thieves». São momentos inesquecíveis quando temos ali à nossa frente Junior Murvin a interpretar canções com décadas de história e que serviram de inspiração, e base para centenas de seguidores. Concerto irrepreensível.
Com a curiosidade de terem a mesma banda como suporte, Murvin deu o lugar a Daddy U-Roy, outra figura lendária da Jamaica. Ele que revolucionou a maneira de cantar no final dos anos 60 ao colocar a sua voz rimando por cima de instrumentais bem conhecidos, criando aquilo que veio a ser conhecido como MC. Uma honra, e um prazer ver o senhor U-Roy ao vivo. Também ele em excelente forma, vestindo um fato castanho e usando um vistoso chapéu branco, mostrou toda a sua arte de cantar a falar, e falar a cantar apresentando autênticos clássicos dos manuais da história da música jamaicana.
Os músicos que os acompanharam eram todos excelentes, sopros, bateria, teclas, guitarra e baixo, estiveram perfeitamente à altura de tão importantes presenças em palco. Mais dois inesquecíveis concertos de senhores que fazem pare das lendas do reggae.
Antes tinham aberto a noite os portugueses One Love Family que representaram muito bem o nosso reggae, embora tenham tido uma plateia ainda muito reduzida.
A fechar a noite, como já disse, estiveram os Groundation que confirmaram em palco todas as expectativas deixadas no novo disco, e voltaram a repetir a boa performance que já tinham assinado nas duas passagens anteriores por Portugal, que lhes vai valendo um assinalável culto de seguidores.
Mas ver um pavilhão cheio de fãs de reggae a vibrar muito mais com os americanos do que com os grandes senhores do género, é ter o mundo ao contrário! Vivam as lendas jamaicanas!
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