Um privilégio poder estar num Coliseu de Lisboa como se fosse uma enorme sala de aula a contemplar um sábio mestre ali sozinho em palco com o seu violão pronto para nos dar uma lição sobre a cultura da música popular brasileira, os seus estilos, e derivados. O sistema de ensino foi muito simples uma introdução falada, e depois o exemplo cantado, e tocado. Sempre assim a noite fora, para uma plateia que não esgotou a sala, mas representava bem os fãs portugueses, os saudosos brasileiros, e nem faltou o ministro da cultura. O nosso, claro, bem discreto a contrastar com a luminosidade do seu homólogo brasileiro.
O pretexto é o disco intimista «Luminoso», lançado em 2006, que Gilberto tem andado a apresentar pelo mundo fora. Agora na Europa não podia falhar a visita a Portugal. Hoje foi o Coliseu de Lisboa, segue-se o do Porto e Serpa.
O conceito é o mais simples possível, Gil sentado sozinho a tocar violão e a desfilar clássicos da sua carreira.
Depois o concerto cresce e junta-se em palco o filho Ben, que o acompanha na viola acústica, e podemos ser surpreendidos por versões de «I'm 64» dos Beatles, ou de temas de Bob Marley a fazer lembrar a revisitação do brasileiro ao mundo de Bob no disco «Kaya».
Gilberto Gil é ministro da cultura do Brasil, e é um homem do mundo que divulga a sua cultura com uma paixão, e sabedoria fascinantes. Ele aproveita o ambiente intimista para apostar no formato diálogo-canção-diálogo. Cada diálogo é uma explicação para o que vamos ouvir, sendo que há uma altura em que viajamos por diferentes tipos de Samba. Por exemplo, o samba Rock, o aamba de breque, o samba canção, a bossa nova, e para cada explicação sobre o derivado vinha uma canção a ilustrar. O mesmo fez para ilustrar o Baião, outro estilo brasileiro, altura em que aproveitou para homenagear Luiz Gonzaga, o chamado Rei do Baião da década de 1940. Para trás já tinham ficado referências a lendas como João Gilberto, António Carlos Jobim, ou Caetano Veloso.
Neste ambiente ouviram-se versões acústicas de clássicos da música popular brasileira como «Exotérico», «Super-Homem», «Metáfora», «Expresso 2222», «Maracatu Atômico» e «Aquele Abraço», entre outras. Também houve espaço para espreitar o futuro em «Despedida de Solteira», canção em estilo xote que faz parte do novo disco a ser lançada em julho, e apresentar mais uma canção dedicada à sua companheira, Flora, de título «Faca e Queijo».
Uma autêntica aula sobre música, e cultura brasileira, a justificar plenamente «Aquele abraço».
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