Noite de emoções na Aula Magna em Lisboa a registar boa afluência de público apesar dos preços altos dos bilhetes. A senhora revelada pela odisseia da família Buena Vista Social Club esteve à altura das altas expectativas dos que ansiavam ouvir a sua doce voz a embelezar clássicos do universo musical sul americano. Com uma vitalidade notável, Omara conseguiu levantar a Aula Magna depois de mais de uma hora a arrepiar, alegrar, e aquecer corações.
Costuma dizer-se que não é elegante falar da idade das senhoras. Omara é uma excepção, e por isso comecemos logo por lembrar que começou a sua carreira em 1945, e portanto eram naturais os receios à porta da sala sobre a forma em que a iamos ver.
Em poucos minutos dúvidas dissipadas. Portuondo está em digressão porque está no pleno das suas faculdades. Aos 78 anos canta sem mácula, passeia-se pelo palco, mete-se com a plateia, e ensaia o seu pézinho de dança. Mesmo quando está sentada é uma figura expressiva. Física, e vocalmente, aprovadíssima.
O concerto vive muito do conceito do recentemente editado disco «Gracias». Faz sentido. Omara está a gozar o efeito de uma fama que tardou mas não falhou. Graças à aventura Buena Vista Social Club o mundo passou a conhecer as vozes mais bem guardadas de Cuba. E se homens como Ibrahim Ferrer, devidamente homenageado quando se ouviu «Dos Gardenias», ou Compay Segundo já não tiveram muito tempo para sentir a consagração mundial, Oamara aproveita as suas forças para agradecer a felicidade do reconhecimento de todos.
É natural que entre em palco ao som da canção «Gracias», e termina a noite abandonando o palco a cantarolar a mesma música. Sai-lhe da alma sinceramente, e comove-nos a todos.
A noite foi sempre assim, emocionante. É engraçado o contraste em palco. Na frente a diva cubana vestindo um alegre traje amarelado, em seu redor cinco excelentes músicos trajando discretamente tons escuros para que a vocalista seja o centro de todas as atenções. Curiosamente os músicos são todos jovens virtuosos que olham para a sua líder com um respeito e carinho digno de assinalar.
Momentos mais marcantes da noite foram os que resultaram da interacção com o público. Omara pede muitas vezes a colaboração de quem assiste, e até conseguiu fazer saltar da primeira fila um espectador mais afoito que não se inibiu de cantar, e dançar de mão dada com a diva.
Durante mais de uma hora seguida ouviram-se as canções do novo disco com destaque para arrebatadora versão de «O Que Será» de Chico Buarque.
Depois houve tempo para uma longa apresentação da banda que sozinha em palco deliciou a sala com os inconfundíveis ritmos cubanos sempre guiados pelas notas de piano.
Foram cerca de 15 minutos instrumentais que serviram para Omara ganhar balanço para uma recta final de concerto entusiasmante com direito a encore e tudo. Privilégio total para quem pode a partir desta noite dizer que já cantou «Besame Mucho», e «Guantanamera» com a voz feminina mais emblemática de Cuba. Sendo que esta última canção levou mesmo o público a saltar das cadeiras e a abafar o som de palco cantando a plenos pulmões. Em jeito de retribuição, Omara foi saindo de cena cantando impecavelmente o refrão de «Uma Casa Portuguesa» celebrizado pela nossa diva Amália.
Noite perfeita.
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