O Ritz Clube, uma casa de espectáculos emblemática de Lisboa encerrada há quase uma década por questões de segurança, está à venda por 1,5 milhões de euros. A imobiliária descreve o imóvel como "um antigo teatro", com 800 metros quadrados de área, que "necessita de obras totais".
Em 2005, cinco anos depois de o espaço na Rua da Glória ter fechado as portas para obras nunca concluídas, foi lançada uma petição na Internet pedindo a sua recuperação "segura, urgente e rápida". "Para que nós e Lisboa voltemos à alegria de conviver juntos", lia-se no texto, assinado por cerca de 1400 pessoas, muitas das quais do mundo da música.
As obras feitas na fachada e na cobertura do edifício quando era presidente da Câmara de Lisboa o socialista João Soares, lia-se na petição, "foram interrompidas no fim do mandato e não mais recomeçadas, por razões que têm a ver com algum desencontro resultante da nossa cultural burocracia". A este apelo a autarquia respondeu dizendo que iria avaliar a situação para ver o que poderia fazer.
Desde então nada se soube e o Ritz Clube acabou por ser colocado à venda, como alertou no seu blogue o Fórum Cidadania Lisboa. No anúncio patente na Internet diz-se que se trata de uma "oportunidade a não perder", mas além do imóvel e do facto de necessitar de "obras totais" nada se diz sobre as características do espaço ou a sua história.
O presidente da Junta de Freguesia de São José considera que o encerramento do "emblemático" Ritz Clube "é uma grande perda" para a cidade, mas manifesta a esperança de que o processo ainda possa ser invertido. "É uma boa altura para a Câmara de Lisboa tomar uma atitude", diz Vasco Morgado Júnior, sugerindo a aquisição do espaço para abrigar "grupos que procuram uma sala para ensaios ou pequenos espectáculos".
Em 2005, o jornalista Nuno Galopim escreveu um artigo onde defendia que "Lisboa não se pode dar ao luxo de perder uma sala como a do Ritz Clube" e lembrava que "as memórias do espaço remontam ao Estado Novo", altura em que era "um cabaret de referência nas noites da capital". Depois do 25 de Abril, conta, a sala "mudou de personalidade" e "garantiu um lugar de encontro com as músicas de África, mais tarde estabeleceu pontes com o reggae, espreitou mesmo novas bandas pop/rock". Nos últimos anos de actividade passaram pelo palco nomes como Da Weasel, Sérgio Godinho, Ena Pá 2000, Irmãos Catita e Peste & Sida.
Por proposta da Junta de Freguesia de São José, feita em 2008, o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico abriu o processo de classificação do Ritz Clube, mas esta decisão acabou por ser revogada. O PÚBLICO pediu esclarecimentos sobre a matéria, mas não obteve resposta.
O alerta do Fórum Cidadania Lisboa, que pergunta se não haverá forma de salvar o espaço, tem tido eco em vários blogues. Num deles sugere-se a viabilização do projecto por um privado, com o apoio da Associação do Turismo de Lisboa.n
Fonte; Público
Inês Boaventura
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