Optámos por começar por nos juntarmos à família que marca a actualidade da música nacional e vimos João Só e Abandonados a apresentar a sua simples e eficaz aproximação ao rock cantado em bom português na sala mais pequena do São Jorge. Aproveitando o balanço subimos para sala 1 e testemunhámos o excelente momento que vivem os Golpes, banda que tem ligações directas ao projecto anterior. Orgulho nacional bem recebido por uma plateia bem composta que aprovou as canções e a chegada surpreendente do quarteto feminino de percussão Caixas Furiosas.
Entretanto chegavam relatos entusiasmados da actuação do canadiano Mocky no Maxime. Atravessámos a Avenida para acalmar ao som de Beach House. Foi um dos concertos mais aguardados do festival com um número considerável de fãs desde cedo a guardar o seu lugar na plateia. Expectativas cumpridas pela banda de Baltimore liderada por Victoria Legrand sempre a dar as coordenadas certas da dream pop que sai da sua doce voz e do seu teclado. Concerto intimista ameaçado por palmas a compasso dos mais irrequietos que foram duramente repreendidos por um fã mais afoito que os mandou parar. Temas conhecidos e outros do disco a ser brevemente editados recebidos com agrado deram aos Beach House uma passagem segura por Lisboa.
Aproveitámos a comunhão entre os Beach House e o público para descremos a avenida até ao Maxime e assistirmos a um pouco do concerto do luso-iraniano Mazgani que figurou recentemente na lista da Les Inrockuptible como um dos mais recomendáveis novos artistas europeias. Em boa forma, o cantor facilmente convenceu a pequena audiência e agradeceu a amigos, e fãs terem optado pelo Maxime em noite de tanta oferta. Um grupo de jovens raparigas parou ao mesmo ao lado do autor desta crónica e ao fim de 1 minuto perguntavam bem alto «quem era aquele gajo» enquanto procuravam atabalhoadamente no programa que uma trazia na mão. Aproveitámos para voltar à rua onde se caminhava com prazer sem grande frio, sem chuva, e subimos até ao espaço La Caffe onde o pianista Manuel Paulo apresentava a sua nova aventura com a vocalista Nancy Vieira e outros músicos dando som aos aromas africanos. Este projecto chama-se Pássaro Cego e tem o formato de disco/livro. Soube bem, como um café, esta passagem num espaço mais acolhedor, mas estava na hora de regressar ao Tivoli para receber a ansiada estreia dos Little Joy.
A enchente na sala revelava que o público gostou da junção entre Fabrizio Moretti dos Strokes, com Rodrigo Amarante dos Los Hermanos que com a ajuda de Binki Shapiro deram vida ao disco Little Joy. O facto deste encontro ter nascido em Lisboa, na noite em que ambas as bandas participaram num festival da capital, traz uma aura especial a esta estreia. E a verdade é que este terá sido o melhor concerto desta edição do Super Bock em Stock com músicos e público em perfeita harmonia com a música em jeito de celebração. Gritos de Flamengo Campeão, elogios da banda à plateia, tudo em clima de festa que ninguém queria ver terminada. É de esperar novos capítulos desta aventura Little Joy, quer em disco (já há temas novos) quer em concertos por cá.
O regresso à sede deste Festival, Cinema São Jorge, foi em enorme número. De tal maneira que foram muitos os que ficaram à porta da Sala 1 completamente cheia para receber Patrick Watson que protagonizou o concerto mais acidentado da noite. O californiano radicado no Canadá vivia a última noite da digressão e já passeava à largas horas pelo espaço do São Jorge com visível boa disposição e bem acompanhado de cerveja. Com problemas de alimentação eléctrica em palco que o privou várias vezes de iluminação e até mesmo de som amplificado, Patrick Watson sentiu-se como peixe na água e partiu para um concerto em todo semelhante ao que se tinha visto em Março de 2008 na Aula Magna. Só que desta vez a desculpa do corte de electricidade até lhe serviu melhor para cantar com megafone, sem microfone, invadir a plateia com luzes improvisadas, e improvisar versões no meio do público. Surpreendente só para quem não o tinha vista há ano e meio. Encantador para quem só ontem tever contacto com o mundo de Patrick Watson. Para muitos foi o final de festa perfeito, mesmo porque este concerto estendeu-se para lá das 2 da manhã. Quem o ignorou foi à procura dos prazeres dançantes vindos das pistas que Juan Maclean lançava no Maxime. Mais tarde os franceses Kap Bambino foram recebidos no parque do Marquês de Pombal pelos mais resistentes.
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