06 dezembro 2009

Festival Super Bock em Stock, Dia 2: Pequenos prazeres

Os destaques desta segunda noite de Liberdade musical na Avenida vão para a grande estreia dos Little Joy, e para os regressos do irreverente Patrick Watson, dos tranquilos Beach House, e de mais uma noite de bonito movimento pedonal entre o Maxime e o Marquês de Pombal.

Optámos por começar por nos juntarmos à família que marca a actualidade da música nacional e vimos João Só e Abandonados a apresentar a sua simples e eficaz aproximação ao rock cantado em bom português na sala mais pequena do São Jorge. Aproveitando o balanço subimos para sala 1 e testemunhámos o excelente momento que vivem os Golpes, banda que tem ligações directas ao projecto anterior. Orgulho nacional bem recebido por uma plateia bem composta que aprovou as canções e a chegada surpreendente do quarteto feminino de percussão Caixas Furiosas.

Entretanto chegavam relatos entusiasmados da actuação do canadiano Mocky no Maxime. Atravessámos a Avenida para acalmar ao som de Beach House. Foi um dos concertos mais aguardados do festival com um número considerável de fãs desde cedo a guardar o seu lugar na plateia. Expectativas cumpridas pela banda de Baltimore liderada por Victoria Legrand sempre a dar as coordenadas certas da dream pop que sai da sua doce voz e do seu teclado. Concerto intimista ameaçado por palmas a compasso dos mais irrequietos que foram duramente repreendidos por um fã mais afoito que os mandou parar. Temas conhecidos e outros do disco a ser brevemente editados recebidos com agrado deram aos Beach House uma passagem segura por Lisboa.

Aproveitámos a comunhão entre os Beach House e o público para descremos a avenida até ao Maxime e assistirmos a um pouco do concerto do luso-iraniano Mazgani que figurou recentemente na lista da Les Inrockuptible como um dos mais recomendáveis novos artistas europeias. Em boa forma, o cantor facilmente convenceu a pequena audiência e agradeceu a amigos, e fãs terem optado pelo Maxime em noite de tanta oferta. Um grupo de jovens raparigas parou ao mesmo ao lado do autor desta crónica e ao fim de 1 minuto perguntavam bem alto «quem era aquele gajo» enquanto procuravam atabalhoadamente no programa que uma trazia na mão. Aproveitámos para voltar à rua onde se caminhava com prazer sem grande frio, sem chuva, e subimos até ao espaço La Caffe onde o pianista Manuel Paulo apresentava a sua nova aventura com a vocalista Nancy Vieira e outros músicos dando som aos aromas africanos. Este projecto chama-se Pássaro Cego e tem o formato de disco/livro. Soube bem, como um café, esta passagem num espaço mais acolhedor, mas estava na hora de regressar ao Tivoli para receber a ansiada estreia dos Little Joy.

A enchente na sala revelava que o público gostou da junção entre Fabrizio Moretti dos Strokes, com Rodrigo Amarante dos Los Hermanos que com a ajuda de Binki Shapiro deram vida ao disco Little Joy. O facto deste encontro ter nascido em Lisboa, na noite em que ambas as bandas participaram num festival da capital, traz uma aura especial a esta estreia. E a verdade é que este terá sido o melhor concerto desta edição do Super Bock em Stock com músicos e público em perfeita harmonia com a música em jeito de celebração. Gritos de Flamengo Campeão, elogios da banda à plateia, tudo em clima de festa que ninguém queria ver terminada. É de esperar novos capítulos desta aventura Little Joy, quer em disco (já há temas novos) quer em concertos por cá.

O regresso à sede deste Festival, Cinema São Jorge, foi em enorme número. De tal maneira que foram muitos os que ficaram à porta da Sala 1 completamente cheia para receber Patrick Watson que protagonizou o concerto mais acidentado da noite. O californiano radicado no Canadá vivia a última noite da digressão e já passeava à largas horas pelo espaço do São Jorge com visível boa disposição e bem acompanhado de cerveja. Com problemas de alimentação eléctrica em palco que o privou várias vezes de iluminação e até mesmo de som amplificado, Patrick Watson sentiu-se como peixe na água e partiu para um concerto em todo semelhante ao que se tinha visto em Março de 2008 na Aula Magna. Só que desta vez a desculpa do corte de electricidade até lhe serviu melhor para cantar com megafone, sem microfone, invadir a plateia com luzes improvisadas, e improvisar versões no meio do público. Surpreendente só para quem não o tinha vista há ano e meio. Encantador para quem só ontem tever contacto com o mundo de Patrick Watson. Para muitos foi o final de festa perfeito, mesmo porque este concerto estendeu-se para lá das 2 da manhã. Quem o ignorou foi à procura dos prazeres dançantes vindos das pistas que Juan Maclean lançava no Maxime. Mais tarde os franceses Kap Bambino foram recebidos no parque do Marquês de Pombal pelos mais resistentes.

jjoaomcgoncalves@gmail.com

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