Duas décadas depois do seu fim, festival Cascais Jazz está de regresso esta semana com cinco concertos que recordam um dos mais importantes eventos de divulgação do jazz em Portugal.
Em homenagem a Luís Villas-Boas, o festival foi recuperado este ano pela mão do programador Duarte Mendonça, responsável também pelo Estoril Jazz.A edição 2009 do Cascais Jazz decorrerá de 4 a 6 de Dezembro, entre sexta-feira e domingo, no Centro de Congressos do Estoril, com cinco concertos revivalistas. Os cinco espectáculos serão protagonizados por artistas que passaram pelas edições anteriores do Cascais Jazz, sobretudo na década de 1970.
Duarte Mendonça, promotor da maioria das edições anteriores do Cascais Jazz, explicou à agência Lusa que este renascimento do Cascais Jazz é uma homenagem a Luís Villas-Boas, divulgador de jazz e fundador do Hot Clube de Portugal.
Do cartaz deste ano destacam-se os regressos do saxofonista Lee Konitz, de 82 anos, que actuará na abertura do festival, tendo como convidado o guitarrista português André Fernandes. O trompetista Jack Walrath, que tocou em Cascais com Charles Mingus, é o convidado do concerto do contrabaixista Zé Eduardo, no sábado. No mesmo dia, o jazz contemporâneo ficará por conta das cantoras Dena DeRose e Ingrid Jensen.
O Cascais Jazz 2009 terminará com um ensemble de notáveis do jazz, no projecto Cascais Jazz Legends, que integra para a ocasião Phill Woods (saxofone), Lew Soloff (trompete), Cedar Walton (piano), Rufus Reid (baixo) e Jimmy Cobb (bateria), músico que participou há 50 anos na gravação do álbum "Kind of blue", de Miles Davis.
Miles Davis e Ornette Coleman no primeiro Cascais Jazz
O Cascais Jazz teve a primeira edição em 1971, organizado na altura por Luís Villas-Boas e o fadista João Braga, e contou com a participação, entre outros, de Miles Davis, Ornette Coleman, Dexter Gordon e Phill Woods. Era considerado o evento, ainda antes da revolução de Abril, de divulgação da música negra em Portugal e que havia público para escutar jazz ao vivo. O festival durou até 1988.
Já num novo século, o Cascais Jazz renasce numa época totalmente diferente em termos de organização e promoção de espectáculos, num cenário em que proliferam os festivais de jazz em Portugal e sugiram novas gerações de músicos. "Dei 15 dolorosos anos da minha vida ao festival, mas hoje as circunstâncias para o fazer são muito diferentes", recordou Duarte Mendonça, hoje com 78 anos.
Foi há cerca de um ano que Duarte Mendonça se lembrou de recuperar o Cascais Jazz, ao descobrir que a marca do festival não estava registada.
O promotor falou com a família de Luís Villas-Boas, por causa dos direitos do evento, tratou do processo de registo e, depois de uma demorada burocracia, ergueu de novo o evento de jazz, o mais importante à época em Portugal. Duarte Mendonça dedica-o a Villas-Boas: "Era muito desorganizado, mas raramente tinhamos divergências. Tenho muitas saudades dele".
Em complemento aos concertos, no Centro de Congressos do Estoril estará patente uma exposição com todos os programas oficiais do Cascais Jazz entre 1971 e 1988, que revelam os artistas que passaram pelo Dramático de Cascais. Está prevista ainda a projecção de filmes e vídeos realizados nesses anos do festival.