09 março 2008

The Cure no Pavilhão Atlântico: A Celebração Dos Negros Anos


(Foto: Rita Carmo)

Mais do que um concerto, foi uma noite de grande consagração de canções que fizeram (e fazem) parte das nossas vidas celebradas ao vivo por perto de 18 mil pessoas que tiveram direito a mais de 3 horas de convívio com a banda que é (sempre foi) do carismático Robert Smith na sua melhor forma. Toda a história dos Cure numa só noite inesquecível.

Robert Smith está de bem com a vida. Com uns quilinhos a mais mantém o visual da sua personagem de sempre, pintado, impecavelmente despenteado, e a voz característica que nos habituámos a ouvir desde a década de 80. A um ano de completar meio século de vida o carismático cantor está determinado em partilhar com a Europa o orgulho que tem na sua carreira construída a fazer canções que ilustravam momentos delicados da sua existência, mas aquela degradação que ensombra a suas composições é agora vista como arte da história popular da música. O público que esgotou por completo a maior sala de concertos da capital também já não se veste todo preto, e apresenta maquilhagens exuberantes como há décadas atrás se via nos concertos da banda. Muita roupa de marca, pais que já levam os seus descendentes, e uma enorme vontade de recordar aqueles tempos de depressão urbana que já vão longe e que deram lugar ao quotidiano de hoje onde a música dos Cure já só brilha no leitor do carro caro, ou no sistema de som comprado para a nova casa, ou nos intervalos da vida profissional bem sucedida.

Ainda há os resistentes da velha escola, um passeio pelas primeira filas junto ao palco revela as figuras mais negras e degradantes, mas poucas são genuínas.
Nesta mistura de personalidades um ponto em comum; a música dos The Cure. E ao fim de 32 anos de vida descobrimos que os ingleses contribuiram generosamente com clássicos mais pop do que obscuros para a história do rock.
Só uma grande banda pode estar mais de 3 horas em palco a tocar sucessivamente quase 4 dezenas de canções e manter o público todo de pé a dançar efusivamente. É que há muitos clássicos no concerto dos Cure, sendo que algumas sequências são simplesmente arrasadoras, e a negritude de outros tempos deu agora lugar a sorrisos e abraços entre os fãs que recebem cada recordação com carinho.

A noite arrancou com «Plainsong», e «Prayers For The Rain». Sempre muito bem apoiado por Porl Thompson na guitarra, Simon Gallup no baixo, e Jason Cooper na bateria, e com uma qualidade de som no recinto digna dos maiores elogios, Smith viu a sala render-se em euforia aos incontornáveis «The Blood», «Friday I'm In Love», «In Between Days», ou «Just Like Heaven».
O alinhamento era tão empolgante que não se dava pelas horas passar, mesmo as novas canções do disco a sair brevemente receberam total acolhimento. Depois da primeira saída de palco os Cure regressaram mais três vezes, e pelo andamento da plateia podiam ter continuado pela noite fora.
Robert Smith apesar de não abandonar a sua figura principal de cabeça descaída a cantar de guitarra na mão, não se fez de rogado quando só tinha um microfone na mão e cantou até cada uma das extremidades do palco olhando para os fãs das primeiras filas com um ar quase paternal. Só esses tiveram o privilégio de ver tão especial figura ao pormenor já que a ausência de ecrans gigantes deixou a maioria do pública so com a visão de uma silhueta o que não os impediu de cantar a plenos pulmões «Close To Me», «Boys Don't Cry», ou «Killing An Arab» com que os Cure deram por encerrada a celebração.
Os Cure entraram para a categoria de lendas queridas do rock n'roll.

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