Patrick Watson tinha prometido em entrevistas à imprensa um espectáculo diferente do registo do disco. Prometeu, e não só cumpriu como ultrapassou todas as melhores expectativas arrancando um simpático concerto cheio de surpresas ao nível das interpretações, e carregado de humor e improviso.
Nota positiva para o facto da sala da Aula Magna apresentar muitos lugares ocupados demonstrando que há um público atento à música menos divulgada nos grandes meios de comunicação, e que segue projectos elogiados como é o caso de Patrick Watson.
E todos os que compareceram ontem só podem ter saídos satisfeitos com a actuação do cantor/pianista.
Patrick Watson tem o sangue quente da California onde nasceu, embora viva há muito no Canadá, e torna-se completamente imprevisível em palco. Anda de canção em canção a trocar as teclas do piano, pela postura à vocalista de pé na frente do palco só com o microfone, e na recta final acabou por trocar o palco pela plateia!
Quem chegasse à Aula Magna por volta da meia noite e apanhasse a parte final do concerto iria ficar no mínimo espantado. Por ali já se viu um dos Beastie Boys sentado na primeira filaa olhar para os companheiros, ou os Yo La Tengo a tocarem alegremente entre as filas de cadeiras. Ontem Patrick Watson e seus três companheiros foram ainda mais originais. Patrick equilibrou-se de pé na varanda onde começa a plateia, na mesma linha mais perto da parede o guitarrista acompanhou-o, enquanto que o baterista subiu até ao corredor mais alto e distante do palco para dar o ritmo fazendo dos separadores de cadeiras uma bateria, e até usando carinhosamente a cabeça de um espectador. Delirante momento em que Patrick cantou sem microfone.
O concerto foi rico em momentos originais, as canções do excelente disco "Close to Paradise" ganham nova roupagem ao vivo, assim como as repescadas do anterior "Just Another Ordinary Day", e as surpresas podem ir até a versões em que só se ouve as vozes dos músicos.
Musicalmente a performance de Watson é muito interessante porque muitas vezes os intrumentais passam para fases quase de jam session, com muita improvisação. Nesse aspecto o momento alto é mesmo o último tema da noite em que o cantor desafiou o público a dar o nome a uma canção que eles de seguida improvisariam em palco. Choveram pedidos como "Lisbon", Night at Lisbon", "Patrick", e o mais valente e inesperado veio de uma jovem que gritou bem alto "Viva o Benfica!". Porém a escolha recaiu no simples "What", palavra mais utilizada por Patrick durante este alucinado diálogo.
E foi ao som da improvisada "What" que Patrick Watson se despediu conquistando os lisboetas, e abrindo portas para mais regressos.
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