Em 2005 o panorama da chamada música tradicional portuguesa abanava com o aparecimento dos portuenses Mandrágora autores de um disco de estreia que os levou a vencer o prémio Carlos Paredes um ano depois. Volvidos três anos e os Mandrágora regressam em formato revisto e aumentado e com novos caminhos na sua música.
Chama-se «Escarpa» o novo disco da banda e é um exercício surpreendente em relação ao que se conhecia do seu universo. E como cresceu musicalmente o projecto Mandrágora! A referência tradicional que marcava o disco de estreia, bem apoiada nos sons das flautas, continua lá, mas agora as canções são mais musculadas, ganharam matéria prima mais cara ao jazz muito graças à entrada de Sérgio Calisto e João Serrador, músicos dados ao improviso.
A verdade é que «Escarpa» é um registo muito equilibrado, e interessante, que tem como base a rica tradição portuguesa mas que vai muito além desse formato para crescer para peças que chegam a fazer lembrar as explosões intrumentais do chamado post-rock praticado por bandas como os Explosions in the Sky. Pode soar estranho mas na prática resulta em pleno, isto porque a maior parte do álbum vive de temas intrumentais que usam a fórmula de soar calmo até elevar a tensão ritmica ao máximo. A excepção é «Abaixo Esta Serra» tema cantado por Francisco Silva em bom português e que é um ponto alto do disco.
Uma passo em frente arriscado mas muito importante e bem conseguido que coloca os Mandrágora na linha da frente da inovação instrumental a partir das raízes tradicionais. «Escarpa» numa palavra é estimulante.
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