31 maio 2008

Rock In Rio-Lisboa 1º Dia: Soul sem alma


O palco Mundo do Rock in Rio 2008 teve logo na sua noite de estreia um daqueles momentos que ficará na história dos concertos em Portugal com a passagem de Amy Winehouse por Lisboa. Uma actuação decadente que contrastou com a energia aeróbica de Ivete Sangalo que arrasou com a multidão que encheu o Parque da Bela Vista que foi chegando ao recinto ao som de Paulo Gonzo e foi saindo à medida que Lenny Kravitz prolongava as suas músicas até ao limite do aceitável.

O que interessa reter desta noite de estreia do Rock in Rio 2008 é que Amy Winehouse apareceu mesmo em palco, o que já foi uma primeira satisfação para público e organização. Já passava das 22h35 quando Amy se mostrou à plateia. Começou com «Addicted» e logo se percebeu que o seu estado estava longe da sobriedade. Foi um concerto na corda bamba, de voz rouca, desiquilibrada nos seus saltos bem altos, e condicionada pelo excesso de consumo de álcool, ou drogas, ou ambos, Amy foi o expoente máximo da figura decadente, e degradante da cultura pop. Um concerto tão mau, tão desastroso que entra directamente para um lugar de destaque na história das lendas ao vivo, e que acaba por ser memorável. Falhas de voz, perdas de sapatos, enganos nas letras, cantar fora de tom, tudo o que uma estrela decadente deste meio pode oferecer a uma plateia pronta a celebrar a desgraça de uma figura à escala mundial. Foi quase uma hora de circo em que Amy se aguentou no limite cumprindo o alinhamento previsto que contemplou todos os sucessos que se queriam ouvir. Tão mau como inesquecível.

Quem não vacila em palco é a brasileira Ivete Sangalo que já faz parte do imaginário Rock in Rio Lisboa nunca falhando a sua visita. Rolou bem a festa como diz a canção e espalhou toda a sua classe em palco com os diálogos empolgantes, desfilando os temas mais esperados para quase cem mil espectadores que não pararam de pular, cantar, dançar, deixando Ivete completamente à vontade para assinar mais uma grande passagem por Lisboa. Levantou poeira, muita poeira, como era de esperar.

A fechar a noite esteve Lenny Kravitz com o seu rock arrastado, esticando os seus sucessos em longos solos aborrecidos, e fazendo render um alinhamento de 16 canções que apostou numa recta final recheada de êxitos como «Mr. Cab Driver», «Dig In», «Fly Away», ou o inevitável «Are You Gonna Go My Away» com que encerrou a primeira noite do Rock in Rio.

A honra de abertura do Palco Mundo coube ao português Paulo Gonzo que foi recebendo os milhares de espectadores que iam enchendo o recinto e que corresponderam de imediato aos apelos dos refrões das conhecidíssimas «Jardins Proíbidos», ou «Quase Tudo», e que ainda surpreendeu com uma versão de «Blue Jean» de David Bowie.

Assim foi a primeira noite do Rock in Rio 2008 marcada pela actuação inquietante de Amy Winehouse.