30 maio 2009

Festival Here and Now no Pavilhão Atlântico: Nem 8 nem 80

É o que se costuma dizer quando algo é mediano, o que se ajusta perfeitamente à noite do Pavilhão Atlântico que recebeu cerca de 6 mil saudosistas dos anos 80 . Em palco, recordaram-se alguns dos grandes êxitos da época que sempre balançaram entre o fraquito bem representado pelos ABC e o mais contagiante como se viu quando Kim Wilde.

Chegou-se a temer que o evento fosse algo embaraçoso na primeira hora e meia. Além do recinto apresentar uma fraca assistência, os poucos presentes davam mostras de não terem grandes saudades dos Curiosity Killed the Cat, aliás, deu ideia de nem saberem quem eram. O vocalista Ben Volpeliere-Pierrot pouco conseguiu fazer para vencer a indiferença.

Foi assim que arrancou o Here and Now, uma espécie de 5 em 1 em que o truque é ter um palco ocupado por músicos que dominem os sons característicos dos anos 80, onde não podem faltar os teclados. Os instrumentistas são sempre os mesmos ao longo da noite o que permite uma rodagem relativamente rápida entre os cinco vocalistas que representam a pop de há duas décadas.

Nesta visita ao baú deu para relembrar os tempos de adolescência, e é agarrados a essas memórias que muitos milhares de trintões e quarentões alimentam rádios que tocam até à exaustão temas que enchem centenas de compilações eighties. Foi assim que deu para lembrar que foram estas bandas as responsáveis pela onda de palminhas sincronizadas no público que ainda hoje poluem concertos de forma indiscriminada, que foi esta gente que deu luz às baladas ao vivo puxando dos isqueiros, e que foi esta geração que incentivou os gordurosos solos sempre acompanhados com o popular air guitar.

Da colheita escolhida pelo Here and Now para vir a Lisboa é fácil avaliar o seu prazo de validade- Os já falados Curiosity Killed the Cat, e os ABC eram perfeitamente evitáveis. Os ABC ainda arrancaram um coro de acompanhamento em «The Look of Love», e apenas isso. Com cinquenta e um anos, Nick Kershaw apresentou-se com ar de avô de cabelo e barba branca mas conseguiu ser o primeiro da noite a levar ao rubro a plateia com uma sucessão de canções que nem nós sabemos bem porque é que ainda nos soam tão familiares. O destaque vai, claro, para «I Won`t Let the Sun Go Down on Me».

Mas a celebração dos anos 80 só conheceu verdadeiramente o seu auge com a presença feminina em palco. A americana Belinda Carlisle, que brilhou na primeira metade da década de 80 com as The Go Go`s, apresentou-se muito elegante, e com imagem cuidada ao melhor estilo da sua Hollywood natal. Com ar de executiva cinquentona Belinda recuperou os êxitos que todos queriam ouvir e cantar. Mesmo com algumas falhas o que contou foi a força de «Live Your Life Be Free», «I Get Weak», «Circle in the Sand», «Leave a Light On» e «Heaven is a Place on Earth».

Menos bem conservada Kim Wilde, com uns valentes quilos a mais, foi a grande agitadora da noite. Atitude bem mais forte que os restantes vocalista, a louraça arrasou com uma plateia nessa altura já muito bem composta e entusiasmada. Valeu especialmente pela recordação de «You Came» e o hino «Kids in America» que foi mesmo o ponto mais alto da noite.

Estavam satisfeitos os muitos grupos de amigos que se juntaram para recordar tempos em que não havia iphones, internet, e o Benfica ganhava muito, daí não se ter estranhado alguns gritos à Glorioso vindos da tribuna, era noite de revivalismos. No entanto a noite não acabava sem a presença de Rick Astley que mostrou o que sempre foi. Um charlatão a viver dos rendimentos de uma orelhuda canção, «Never Gonna Give You Up». Ao fim de 20 anos ainda manter aquela altiva postura por tão pouco merece o nosso elogio.