Está oficialmente aberta a época de festivais em Portugal. Tudo começou no dia de ontem com a celebração em pleno coração da capital do primeiro Creamfields, um evento que já correu o mundo e até há poucas horas fez de Portugal a sua casa.
A campanha de divulgação do festival falava em música e etc, muito etc. Pois bem, era uma campanha sincera e no rescaldo da passagem pelo parque da Bela Vista o que se pode dizer é que foi o triunfo do etc e já explico porquê.
Se fossemos avaliar a potencialidade do Creamfields pelo alinhamento do palco principal seria complicado convencer muita gente a gastar dinheiro num ida até lá. Convenhamos que ir ver You Should Go Ahead, Expensive Soul, Da Weasel, Placebo e Prodigy, não é nada que não possamos imaginar num qualquer cartaz de Queima das Fitas por esse país fora.
A atracção do Creamfields estava espalhada por outros palcos direccionados a um público específico como são os nichos dedicados ao reggae, dance music, rock, ou electrónica.
Se juntarmos a estes palcos outras orginais ofertas como um jantar a 30 metros de altura, ou passeio de balão (que acabou por não acontecer devido ao vento), ou passagens por um local com piscina, entre outras acções de promoção dos diversos patrocinadores, temos então uma gigantesca feira popular que atrai o povo tendo a música como pretexto.
O conceito está aprovado, e só não entendo porque é que um espaço como este na Bela Vista não é aproveitado pelos responsáveis da cidade, e apenas é dinamizado por Rock in Rios e Creamfields, não dá mesmo para entender!
A comparação é tão inevitável quanto injusta, mas temos que dizer que o Creamfields perde aos pontos para o Rock in Rio. Deu ideia que a organização não acreditou que aparecessem muito mais do que os falados 20 mil pagantes, a verdade é que devem ter estado uns bons milhares de pessoas a mais, e isso veio a espelhar-se nas inacreditaveis filas que se foramavam à porta de tendas, ou das instalações sanitários, ou até para experimentar as várias atracções ao longo do parque. Fez lembrar a Eurodisney às 16h.
A juntar às enormes filas há que apontar mais aspectos negativos. A espera para se comer à medida que a noite caía era desesperante! E, finalmente, a questão mais grave, não havia no recinto uma única caixa multibanco.
Estes factos negativos depois de 2 edições do Rock in Rio no mesmo espaço não escapou à crítica de ninguém, especialmente a parte da alimentação que para quem não tinha o mágico acesso à área VIP, onde até se podia beber Moët & Chandon, foi uma desilusão.
As partes boas do Creamfields são para meditar. Para mim, o principal a reter é o facto de podermos ter no mesmo espaço vários palcos a funcionar ao mesmo tempo, ao contrário do que costuma acontecer por cá. A diversidade da oferta assegura o bom funcionamento de cada espaço. Eu vi muito boa gente que andou a pular entre o rock dos Vicious Five, ou Wraygunn, e o reggae de Max Romeo, e que nem chegou a aproximar-se do palco principal.
Os concertos verdadeiramente interessantes passaram-se mesmo nos espaços temáticos. Os três que já referi são os melhores exemplos de compensarem uma ida ao Creamfields.
É a confirmação da força que o reggae vem mostrando por cá, embora eu continue a achar estranho a geral beatificação dos novos nomes, Jahcoustix é um bom exemplo, em detrimento de uma veneração geral a lendas como Max Romeo. Mas isto sou eu que já estou velho.
No palco principal só os Da Weasel mostraram estar à altura do grande aparato sonoro, e visual, que o cenário impunha aos muitos teenagers que ocuparam os vários metros de relva em formato de vale em frente do mesmo.
Os Da Weasel confirmam-se como os Xutos & Potanpés (no sentido da aceitação generalizada, e celebrizada) da sua geração. Com um disco novo para apresentar, a banda de Pacman desfila em mais de uma hora um formato de Best Of de toda a sua carreira, e já consegue ter grande reacção dos fãs nos novos temas.
De resto os Placebo tiveram uma passagem fraquinha, ao contrário do que tinha acontecido há um ano no Super Rock, e os Prodigy chegaram a entusiasmar mas só quando passaram pelo disco que lhes garante a sobrevivência há mais de 10 anos.
Os Expensive Soul animaram o pessoal, mas não convenceram muito por culpa de uns coros ridículos. Já os You Should Go Ahead deram tudo o que tinham na ingrata tarefa de abrir as hostilidades ainda com o sol bem alto, e pouca gente à sua frente.
Feito o balanço, digo que valeu a pena perceber que estes eventos em formato de feira popular têm potencial para vingar, e que o conceito de vários palcos a funcionar ao mesmo tempo é aposta segura para futuras edições.
Está aberta a temporada festivaleira!
(fotos do site da Antena3)
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