28 outubro 2007

Mark Kozelek no Santiago Alquimista: O (en)canto de Kozelek

A julgar pela boa afluência de público à sala do Santiago Alquimista ainda há por aí muita alma ancorada no imaginário das melancólicas canções que os Red House Painters construíram para uma imensa minoria durante a década de 90. Mark Kozelek tinha prometido interpretar temas da sua variada carreira visitando o repertório dos Painters, ou dos seus discos a solo, ou ainda dos Sun Kil Moon, e cumpriu para agrado de todos.

Sem mesas e cadeiras em frente ao palco, o espaço do Santiago Alquimista registava numerosa presença de fãs, bem mais do que se viu na noite de Kurt Wagner, por exemplo, e o ambiente ficou mais caloroso para receber Kozelek.

Postura curiosa do americano em palco. Sempre de pé, discretamente vestido de camisa clara e calças escuras, com um pé sempre mais adiantado que o outro, apenas com a sua guitarra, e de cabeça caída enquanto canta o seu reportório. Só não é o símbolo perfeito do músico solitário porque após um começo sozinho apareceu um companheiro que se sentou ao seu lado para o acompanhar à viola.

Tudo começou tal como começa «Ghosts of the Great Highway», disco dos Sun Kil Moon, ou seja com o tema «Glenn Tipton», desta vez muito mais despido e intimista. No meio das canções Kozelek foi comunicando com a plateia, enquanto ia afinando as cordas, e pedia ajustes de som que apesar do ensaio da tarde acabou por dar trabalho extra em palco por razões deconhecidas segundo o próprio Mark.

O seu grande trunfo é sem dúvida aquele timbre de voz inconfundível que nos remete logo para as enormes canções dos Red House Painters que toda a gente na sala parecia conhecer na íntegra. Foram duas horas entregues aos acordes, e à voz, de Kozelek que quando tocou «Tiny Cities», «Duk Koo Kim», «Gentle Moon», ou a versão dos The Cars «All Mixed Up», teve os fãs rendidos à sua melancolia. Com o avançar da actuação o ambiente ia ficando mais descontraído e os pedidos vindos da plateia sucederam-se.

Tiveram sorte os que sugeriram «Katy Song», ou «Around and Around» já em período de encore, que fechou uma noite simpática, intimista, e que avivou memórias dos tempos em que o slowcore era moda. Terminado o concerto ouvia-se nas colunas do Alquimista o disco dos Spain, para que não restassem dúvidas.

Na primeira parte, Sean Riley e os Slowriders apresentaram as canções do disco de estreia «Farewell». Sem particular brilho, acrescente-se.