Uma sala do Coliseu completamente cheia para receber a brasileira do momento, Vanessa da Mata que ansiava por este regresso à capital portuguesa, e, especialmente, por pisar pela primeira vez o palco da mais ilustre sala de espectáculos de Lisboa. O resultado acabou por ser um concerto muito bem conseguido e recebido em euforia pelo público português que teve direito a duas versões de «Boa Sorte/Good Luck».
Como pode uma canção catapultar a carreira de um artista para o estrelato, fazer com que as vendas dos seus discos disparem, que os bilhetes dos seus concertos esgotem? É «só» conseguir fazer uma música perfeita capaz de se alojar em qualquer ouvido, desde o mais atento ao mais distraído. Vanessa, ao fim de 5 anos de carreira, conseguiu assinar os seus 3 minutos e 45 segundos de magia que lhe garantem um lugar na história dos grandes vultos brasileiros da recente história que tem celebrado nomes com os Tribalistas, Seu Jorge, ou Maria Rita. Esses 3 minutos e 45 segundos dão pelo nome de «Boa Sorte/Good Luck», que em disco conta com a participação de Ben Harper, e que é seguramente uma das dez melhores canções que já se ouviram este ano. Vanessa da Mata assume que encontrou o ouro nesse tema e traz ao Coliseu um espectáculo de hora e meia onde dá todo o destaque às músicas de «Sim», o disco editado este ano e que tem vendido muito bem graças ao tal êxito. O mais interessante é que o disco é mesmo bom, e está à altura de corresponder às expectativas resultantes de um grande single. Vanessa sabe-o e aposta tudo neste seu novo disco, apenas revisitando sucessos anteriores pontualmente como aconteceu com «Nossa Canção», «Não me Deixe só» - em versão bem dançante,ou «Onde Ir», temas do disco de estreia. Também não esqueceu as versões de «Eu sou Neguinha» de Caetano Veloso, e de «História de uma gata» tema maior da obra de Chico Buarque. Curiosamente, quase tudo temas popularizados em telenovelas brasileiras.
O facto deste novo disco, «Sim», ter fortes, e boas, influências jamaicanas nota-se ao longo da noite. Diga que o disco foi gravado o Brasil e a Jamaica, contou com a produção de Mário Caldato, e conta com a participação da estimada, e respeita dupla Sly & Robbie em meia dezena de canções. Por isso foi sem surpresa que vimos a banda de Vanessa a improvisar uma versão para o clássico de reggae «You Don't Love Me (no, No, No)». Foi um concerto simples, com muitos pontos a favor de Vanessa. Desde logo o facto de ter comunicado com o público só em dose quanto baste evitando assim cair nos excessos habituais dos artistas brasileiros que acabam por se perderem em longos diálogos com o público. Vanessa apenas aproveitou para contar a origem de uma música que fez por causa do cabelo do menino Joãozinho, e para dizer que para ela era uma noite histórica já que sempre sonhou actuar naquela sala onde alguns dos seus excelentes músicos já tinham estado com outros compatriotas. A felicidade, e o sorriso estampado na cara desta mulher nascida no Mato Grosso há 31 anos, obrigam-nos a acreditar que tudo o que ela diz é honesto.
O concerto até pareceu curto, uma hora e meia e tantas canções mais antigas ficaram de fora. Mas a noite era de celebrar o novo disco, e para que não houvessem dúvidas na última meia hora Vanessa brindou o público com duas versões de «Boa Sorte/Good Luck». Saiu feliz do palco, assim como o povo saiu feliz da sala.
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