21 dezembro 2006

JP Simões @ Santiago Alquimista: Código da música

20/12/2006


O título escolhido para esta crónica é retirado de uma parte do discurso de JP Simões, que ele usa a intercalar cada canção, e era um trocadilho com o famoso «Código Da Vinci». É a sua imagem de marca, parte para as suas composições com ar comprometido, duas mãos agarradas ao microfone, um cigarro no meio dos dedos, olhos fechados, e uma voz que se solta debitando letras muito mais interessantes do que à partida se pode esperar.

Os Belle Chase Hotel foram a montra para o grande público, o Quinteto Tati é um ponto de passagem, a «Ópera do Falhado» ficou escondida do grande público, e finalmente o cantor apresenta-se em nome próprio. JP Simões é um caso muito sério na música portuguesa, escreve muito bem, e consegue passar mensagens que dizem muito à sua geração. Optou por se colar, sem o esconder, ao ritmo de Chico Buarque, mas fá-lo com um carisma próprio, e com um cunho pessoal que ninguém o pode levar a mal.

A geração a que me refiro é a minha, ou seja a que nasceu no início dos anos 70. A meio do concerto no Santiago Alquimista ouve-se uma música que fala da geração do cantor. Está lá tudo. Uma geração que já desistiu dos seus ideias, que nunca foram bem claros, que já casou e se acomodou. É só olhar à volta e temos dezenas de casos na sala que registou grande afluência de público na noite fria que antecede a chegada do Inverno.

Em palco JP Simões fez-se acompanhar pelo coro que gravou o disco, e bateria, baixo, teclas e sopro. É reproduzir aquilo que se pode ouvir em «1970», o disco que vai estar à venda já no início de 2007 (quem esteve no concerto já o pôde adquirir).

É com toda a certeza que afirmo que a duas semanas do fim do ano, assistimos à apresentação de um dos melhores discos portugueses do próximo ano.

Eu até defendo que na maioria das vezes o que me cativa mais é o instrumental passando o lirismo para segundo plano, mas no caso de JP Simões é exactamente o contrário que acontece. Deixamo-nos levar por aquele labirinto de palavras com que ele constrói ideias, e pertinentes mensagens que via desanuviando com um discurso irónico, e bem disposto no intervalo de cada música. Mesmo que raramente se ria.

JP Simões é um dos poucos génios da minha geração, a tal do inícios dos 70. É um rapaz para quem eu olho com admiração e orgulho de ser do mesmo tempo que o meu. Tenho sorte em ter um porta-voz assim.

E depois, quem edita um disco de 11 temas, em que 2 evocam o glorioso; «Vestido Vermelho», e «Capitão Simão», merece tudo de bom!



publicado no Disco Digital