Uma banda australiana mascarou-se de Pink Floyd, com efeitos visuais e tudo, e mais de um milhar de fãs do lendário grupo resolveu entrar no espírito carnavalesco e encheu a Aula Magna para ouvir, cantar, e aplaudir convictamente o projecto que interpreta algumas das músicas mais conhecidas do planeta.
Ou então esqueçamos a época carnavalesca e interpretemos esta enchente entusiástica para concluirmos que em última análise a música é que conta. A música só por si tem muita força, tem a enorme capacidade de nos fazer sonhar, de fecharmos os olhos e fazer de conta que aquelas canções estão a ser tocadas pelos seus criadores.
Claro que é preciso uma boa dose de predisposição para se viver com entusiasmo esta aventura de mais de duas horas, com intervalo pelo meio ao bom estilo dos musicais do La Féria.
A execução musical é exemplar, a banda consegue recriar bem as canções de «The Wall» e «Dark Side of the Moon». A evocação de imagens retiradas do filme «The Wall» na tela gigante que faz de cenário ajudam a criar o ambiente e a centrar o olhar que só é desviado para o belo trio feminino que faz as vozes de apoio, e dançam sincronizadamente com gestos de braços ao estilo mais clássico.
O segredo destes australianos é não se levarem demasiado a sério, e só isso explica que o tal coro feminino seja dispensado no essencial refrão de «Money». Os rapazes já andam nisto há mais de 20 anos, e até são reconhecidos por Guilmour como veículo importante da mensagem musical dos Pink Floyd. Cumprem bem o seu papel. Impressionante é ver a reacção da plateia que vai reagindo como se ali estivessem Guilmour, Nick Manson, e Richard Wright... Já nem falo em Roger Waters no mesmo palco.
Percebe-se que dê para matar saudades de uma banda que pode ser a mais importante da nossa vida, mas aqueles momentos não chegam aos calcanhares da memória que temos dos concertos de Alvalade há mais de dez anos. Não era caso para se pedirem músicas nos intervalos silenciosos, e para se exigir um encore daquela maneira histérica.
De qualquer maneira o povo é que sabe, e se recebe assim uns australianos numa espécie de Chuva de Estrelas em domingo à noite dedicado aos Pink Floyd é porque já aprovou os Queen sem Freddie Mercury, ou os Doors sem Morrison, ou encheu o Pavilhão Atlântico para um musical dos .. Abba. O povo à saída da Aula Magna comentava que «isto merecia era um Pavilhão Atlântico...», sendo que «isto» foi o musical a que tinha acabado de assistir. E se o povo aprova... Mesmo porque já diz o provérbio: é carnaval ninguém leva mal!
in disco digital
-