06 fevereiro 2008

Zu na ZdB

edit: (Infelizmente o concerto dos Zu foi cancelado, assim como toda a digressão europeia. No site deles informam que haverá outra tour e com Mike Patton. Podiam passar por cá...)

Vale a pena marcar na agenda uma ida logo à noite ao Bairro Alto para assistir ao regresso dos italianos Zu na ZdB. A primeira parte é dos portugueses Tropa Macaca. Aqui ficam as apresentações feitas pela própria ZdB:

Zu
Quando Weasel Walter começou os seus Flying Luttenbachers, os cruzamentos entre o rock - e o punk hardcore no particular - e o free jazz eram pouquíssimos, se é que não eram nenhuns. Estabelecendo formações várias com dezenas de músicos, os Walter foi destruindo barreiras e procurando sinergias de conhecimento, para obter aglutinações suficientes de modo a obter novos modos de expressão musical.
Os Zu, trio italiano, terão sido dos primeiros cidadãos inspirados pela obra de Walter (e de tantos outros, mas a linha é mais directa por aí) ao ponto de fazer algo com essa herança. Durante anos fizeram (na volta ainda fazem) o circuito squatter punk, a tocar em tudo quanto é pardieiro com cães, pulgas e tinto de pacote. Da sua costela hc/sxe herdaram o músculo, o ruído, a energia e a estrilhagem. Com as bases jazzísticas, herdaram a sofisticação e pureza de comunicação. Ou seja, a pica dos Black Flag, e o INCÊNDIO de Albert Ayler, com muito suor e rebentamentos metafísicos em convivência.
Depos de 'Igneo', o seu segundo álbum - que foi o primeiro momento discográfico que circulou um pouco mais fora do seu pequeno circuito à época do início da década presente -, contavam já com colaborações de luminários do jazz moderno contemporâneo, com Ken Vandermark, Fred Lonberg-Holm ou Jeb Bishop. Discos foram também editados, nos anos que passaram entretanto, com gente tão diversa quanto o freaky erudito do Eugene Chadbourne, como com o géniozinho das electrónicas Nobukazu Takemura, para nem falar de numerosas colaborações ao vivo com uma panóplia extremamente variada, esteticamente, de músicos.
O seu mais recente registo, 'The Way of the Animal Powers' com o supramencionado Lonberg-Holm a ajudar no violoncelo, é mais um atestado da ordem cataclísmica da vertiginosa bateria de Jacopo Battaglia na bateria, do imenso pulsar destrutivo de Massimo Pupillo em baixo eléctrico, e da berraria virtuosa do sax alto e barítono de Luca T. Mai. Segunda visita a Portugal, depois do motim que criaram no seu concerto na ZDB em 2004.

Tropa Macaca
Figuras maiores da experimentação e novas músicas livres portuguesas, o duo tirsense de Joana da Conceição e André Abel arranca para o seu primeiro concerto em Lisboa deste ano, como sempre a cada dia que passa, com trabalho ainda mais brilhante, ainda mais único.
Num 2007 que viu o lançamento do seu primeiro LP, 'Marfim', pela Ruby Red, ser celebrado de forma discreta em Portugal, mas com brio e efusão por alguns dos maiores gurus do underground contemporâneo - caso de Tom Lax, dono da Siltbreeze, que os indicou nada fornada do melhor que se fez no ano transacto, ou do director da fundamental estação de rádio novaiorquina WFMU, Brian Turner, que os colocou no seu top 10 para a mítica lista do Village Voice, the Pazz and Jop poll -, 2008 afigura-se um ano de crescente trabalho, com uma nova edição em vinil já programada para a italiana Qbico, das grandes casas da vanguarda mundial dos dias de hoje.
Trilhando caminho por um não-género inclassificável, os Tropa Macaca funcionam em regime de improvisação. A maquinaria e a guitarra têm largo conhecimento da expressão freeform, propriedade sobre a história do beat electrónico (o house primitivo dos anos 80 revisto à luz de músicas hipnóticas várias, tanto roots com vanguardistas), num voo circular, repetitivo, de saturação e perfuração em direcção à luz do centro da terra, das coisas, das situações. Não fiquem, por amor de deus, à espera que venha o underground mundial todo dizer bem deles para começarem a prestar atenção a alguma da mais criativa música que se vai fazendo por aí.