26 fevereiro 2008

Michael Gira no Cinema Nimas: A classe da simplicidade

Segunda feira costuma ser noite especial nas salas de cinema. No Nimas em Lisboa a noite além de especial foi para perdurar na memória de todos que encheram a sala para receber Michael Gira.
Em registo simples só com guitarra, microfone, sentado num banco, Gira encheu a sala com sua voz bem projectada ao longo de hora e meia.

A proposta era original, um concerto mais intimista numa sala de cinema bem no centro de Lisboa com uma grande figura do (chamemos-lhe assim) rock alternativo americano que angariou admiradores nas décadas de 80 e 90 pela força dos grandes Swans.
O desafio teve boa aceitação e a sala encheu-se de fãs que foram recompensados com uma belíssima noite de canções.

Michael Gira tem uma figura carismática que a sua idumentária ajuda a realçar exibindo uns elegantes suspensórios, e o incontornável chapéu à cowboy. Entra em palco, apresenta-se agradece a todos, acto que repetiu várias vezes durante a noite mostrando-se visivelmente satisfeito com a recepção lisboeta, e parte para uma demonstração impressionante do poder das suas canções despidas, e resumidas, a uma guitarra e à sua excelente voz.
São músicas com letras fortes que ganham nova vida na maneira sentida como Gira as canta, por vezes usando o som de violentas sapatadas no chão do palco com que acompanhava a parte mais intensa de cada interpretação.
Foi uma caminhada sólida pelo universo musical e lírico de Michael Gira que passou pela faceta The Angels of Light, o projecto que abraçou após o fim dos Swans, e que mais se aproxima deste registo acústico, mas que não ignorou os tempos mais agitados dos Swans de onde recuperou alguns temas.

De forma simples, eficaz, e brilhante, Michael Gira proporcionou excelente sessão musical que só o ar condicionado ia atrapalhando, mas que foi decididamente resolvido pelo artista ao pedir para o desligarem antes que a sua voz se perdesse.
Sem ar condicionado ligado tudo fluiu harmoniosamente entre cantor e plateia.
Grande passagem de Michael Gira por Portugal.

Na primeira parte o italiano Fabrizio Modonese Palumbo apresentou os seus ambientes experimentais com alguns momentos interessantes baseados na construção progressiva de sons que iam sendo gravados e acumulados formando algumas muralhas sónicas. Não chegou a colaborar com Gira como chegou a estar anunciado.

in Disco Digital