20 agosto 2009

10 Canções, 10 Verões

Gostei da sugestão do Público que partilho aqui:

O P2 junta som ao som infatigável e sugere dez Verões em forma de canção.

Verão não é a silly season

Fine for now
Grizzly Bear

Porque no Verão não nos limitamos a viver um hedonismo desenfreado, porque no Verão não existe apenas a apoteose habitual da pré-época do Benfica, mas também a depressão desta pré-época do Sporting, guarde-se espaço para algo mais essencial. Veckatimest, dos Grizzly Bear, é um dos discos do ano. Beatífico, luminoso, todo ele são vozes atiradas aos céus e magnífica introspecção. Durante os cinco minutos de Fine for now, aproveitemos para nos fecharmos ao mundo lá fora. Ali não entra a silly season.

Verão é o que um homem quiser

Muda que muda
João Coração

Ouvimos há dias alguém dizer que a verdadeira passagem de ano acontece em Setembro, quando as pessoas voltam de férias. Se assim é, não haverá melhor que Muda que muda, canção título do novo álbum de João Coração, para os habituais votos de ano novo, agora transpostos para pleno Agosto. Um trovador a atirar-se de cabeça ao baile popular, um homem que canta "vou a caminho do nada" sobre uma citação dos Talking Heads. "Se é para mentir, é para mentir"; "se é para mudar, é para mudar". João Coração já está em 2010.


Verão 2009, Verão Michael Jackson (I)

Don't stop til you get enough
Michael Jackson

Bem sabemos que recomendar esta canção, precisamente esta canção, precisamente este ano, é uma redundância. Morreu o Rei da Pop e o mundo esqueceu-se dos escândalos do branquelas alienígena que lhe tomara o lugar na consciência popular. Lembrámo-nos das canções, canções imensas como esta Don't stop til you get enough. O baixo a marcar o ritmo, aquele "Ooooohhh!" a ordenar ao ritmo que avance e a secção de cordas a espalhar magia. Nesse preciso momento, Michael é o maior de sempre e, se não fosse de mau gosto, diríamos que estamos no céu.

Verão 2009, Verão Michael Jackson (II)

I want you back
Discovery

Eles, os Discovery, que são formados por um membro dos Vampire Weekend e um dos Ra Ra Riot, não podiam adivinhar o que aí viria quando gravaram esta versão da melhor canção dos Jackson 5. Sintetizadores manhosos, a voz robótica, distorcida com auto tune, e o bom Michael criança transformado em personagem futurista. É a música ideal para as um pouco mais frescas 4 da manhã de um dia de 40 graus à sombra. Michael aprovaria certamente.



Verão para quem está farto dos anos 1980

True romance
Golden Silvers

Tal como 80 por cento da população adulta esclarecida, já está farto do revivalismo dos anos 1980? Pois aqui tem o antídoto perfeito. True romance, dos ingleses Golden Silvers, soa a uns anos 1980 que correram bem, ou uns anos 1980 que já não nos lembramos que existiram. É ouvir o baixo a gingar com o cowbell, o homem do canto-falado e do teclado funky. É dançar, boa gente, que estamos no Verão de 2009.



Verão para quem não está farto dos anos 1980

Human
Killers

Human, dos Killers, é o oposto de Fine for now dos Grizzly Bear, ou seja, a canção ideal para a silly season: imagina algo mais apropriado que, numa discoteca apinhada, berrar juntamente com centenas de pessoas algo tão indecifrável quanto "are we human, or are we dancer"? Os Killers sim, são os anos 1980 tal como nos lembrávamos. E Human será o Like a virgin de 2015 ou o Dragostea din tei de 2018 (mas em inglês). O melhor é ir treinando.



Verão são dias sem tempo

Ayrton Senna
Norberto Lobo

Há aqui algo daquela magia indefinível dos longos Verões da infância, quando o dia tinha, no mínimo, 48 horas e tudo parecia possível. Há aqui aquele dedilhado absurdamente tocante de Norberto Lobo, Midas das seis cordas, a convocar a imagem de um céu de uma imensa melancolia. O segredo está em que a ouvimos, com Norberto e numa canção intitulada Ayrton Senna, como algo que não angustia. É, digamos, melancolia pelo futuro. E, nestes três minutos de música, o dia volta a ter 48 horas.



Não te deixaremos morrer este Verão, Bruce Lee

Dragão
Cacique 97

Os lisboetas Cacique 97 levam pontos extra só pela intro de Dragão - um sample de Bruce Lee, retirado de A Fúria do Dragão, não é simplesmente cool, é sinal de óbvio bom gosto. Mas depois há o resto, este ritmo afro-beat contagiante com órgão Rhodes, metais a levitar, secção rítmica num frenesim e coros a potenciar o poder hipnótico da música. Esqueçam Steven Seagal, Jackie Chan e Van Damme. Alerta vermelho: escaldante. Vivam os Cacique 97.



Um clássico esquecido ("chaud, comme il faut")

Couleur Cafe
Serge Gainsbourg

Mestre Gainsbourg, o cultor insurrecto da chanson que haveria por se deixar seduzir, citamo-lo, pelos ventos que sopravam de Liverpool, era um romântico incurável (esqueçamos aquele episódio com Whitney Houston). Couleur Cafe não engana. Galanteio gracioso em balanço tropical gentil e ela a dançar, ele a elogiar-lhe a dança, as percussões e a guitarra a criarem com precisão um quadro de inocência veraneante - apesar do calor, apesar dos corpos. Como é saboroso recuperar um clássico esquecido.


No Verão, suor e dança

El borrachito
Chicha Libre

Uma vénia às boas coisas da globalização: uma banda do século XXI, de Nova Iorque, que pega em música peruana dos anos 1970 e a transforma num meltingpot irresistível. Salsa e cumbia e surf-rock, espanhol e francês, Ennio Morricone e um órgão Farfisa na selva amazónica. Os Chicha Libre não são as férias previsíveis num resort em Varadero. Os Chicha Libre misturam-se com o povo e misturam a música toda. Suemos irmãos, suemos.