Sexta Feira 28
Como saí de Lisboa já depois das 18h não cheguei a Sines a tempo de ver Nuru Kane. Portanto, vamos directos para o primeiro concerto da noite no Castelo.
Farida & Iraqi Maqam Ensemble
Não fazia a menor ideia ao que ia, só sabia que Farida vinha substituir Thomas Mapfumo no cartaz.
Foi entrar já com a senhora em palco e ficar rapidamente absorvido por uma espécie de soul music das arábias. Farida tem o sentimento na voz, e os seus companheiros e familiares dão som ao imaginário colectivo que viaja para os lados do Iraque, mas de um Iraque com outra cara. Estava ali a maravilhar-me com o concerto de uma mulher livre a mostrar-nos que há bela , muito bela, música vinda das arábias. Farida fez valer todas as secas apanhadas à saída de Lisboa para rumar ao seu encontro. Mágico.
The Bad Plus
O trio de jazz americano tinha uma tarefa complicada e algo irónica. Primeiro, captar a atenção de uma plateia encantada por... iraquianos. Segundo, fazer valer as boas referências com que vinham a ser apresentados. Sabia-se que os Bad Plus agarram em hits dos Nirvana, ou AC/DC para os refazerem em trajes de jazz. Devia resultar.
Não resultou totalmente. Afinal, não se atiraram a covers como seria de esperar e foram mostrando uma música de contornos jazzísticos interessante, mas longe de deslumbrar. Meteram-se com o "Narc" dos Interppol sem grande excitação, o que é normal já que o próprio original não excita nada, e depois acabaram por descambar à volta do "Chariots of Fire" de Vangelis.
Conclusão os americanos saíram goleados no confronto directo com os iraquianos nesta noite em Sines.
Trilok Gurtu & The Misra Brothers
Depois do jazz americano regressou a magia oriental a Sines. A expectativa era alta para ver ao vivo o mestre da percussão. Trilok Gurtu não defraudou e arrancou um excelente concerto a fechar a noite de concertos no Castelo.
Sentado de lado para o público, e enfrentando os Misra Brothers, comandou a sua música que vive do sentido de ritmo saído das suas mãos ensinadas a marcar o som certo na altura certa. É um espectáculo ver Trilok em acção, e sentir as vozes dos Misra a segui-lo.
Esta música vinda da Indía deixa-nos a dançar até ao fim.
Um dos grandes concertos do festival.
Tonny Allen
Já feita a descida até à praia tudo pronto para receber o concerto de Tonny Allen.
Era um dos concertos que eu esperava com mais expectativa. Tenho discos de Tonny Allen que me fizeram interessar por todo movimento chamado afrobeat. Esperava algo de muito dançável.
A distribuição dos músicos em palco mostrava logo quem era o foco de todas as atenções, com a bateria chegada para a boca de palco, se bem que descaída para o lado esquerdo. Futebolísticamente falando, podia interpretar-se esta visão como tendo em Tonny Allen um excelente extremo direito a centrar bolas prontas a encostar na baliza. Os seus pontas de lança são os restantes músicos, todos muito bons.
Tudo a corresponder ao que esperava, mistura cíclica entre o explosivo funk e as linhas de jazz, o afrobeat a todo o vapor ali à nossa frente a fazer mossa no nosso corpo a acusar já as muitas horas de dança em cima.
Um grande concerto a fechar a noite, com a brisa do mar mesmo ali ao lado.
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