Fiz bem em só ir para Santos às 22h. Aquilo que se pretendia passar como grande noite de reggae, era mais uma noite com música direccionada a públicos bem diferentes. Deixemos o G.Love de fora, porque este nunca foi do reggae, deve ter tido uma agenda favorável a uma passagem por cá, e veio por arrasto. Foi ele que tocou até às 22h.
Aliás, pensando melhor, eu devia era ter ido só às 24h, só que era uma segunda feira, início de uma semana de trabalho, sair à meia noite de casa não era apropriado. Assim tive que levar com mais de uma hora de concerto de Sean Paul. Ok, tudo bem, o rapaz tem ascendencia lusa, é simpático, tem umas belas meninas a dançar em palco e até tem um, ou dois, singles engraçados. Mas, caramba, isso não faz dele um digno antecessor em palco do mestre Burning Spear.
Sean Paul serve-se do reggae, há ali ligeiros laivos que fazem lembrar a música jamaicana, para se atirar com todo o azeite para um hip hop/rap/pop aborrecido e sem ponta de interesse. A miudagem parece adorar. Claro que apareceu de camisola preta da selecção vestida, claro que puxou do cachecol, claro que cantou por Portugal, e claro que o povo respondeu em extâse.
Musicalmente, é que foi uma nulidade. Há um momento em que Sean Paul diz para nos lembrarmos dos grandes nomes do reggae da Jamaica; Bob Marley, Burning Spear... Era aqui que os seus imberbes fãs deviam ter dado ouvidos.
Mas não deram, e assim que acabou o concerto todos rumaram à saída em direcção aos carros dos papás que os esperavam. Foi pena, ficaram sem saber o que é o reggae a sério. Terão tempo de aprender com os anos. Haja vontade!
Plateia renovada. Meninos e meninas a caminho de casa. Rastas, freaks, e um público visivelmente menos jovem, chegaram-se à frente do palco e tudo se compôs para receber o senhor Burning Spear. Um som de reggae a sério, secção de sopros com 3 elementos, teclista competente, baterista convincente, e baixista discreto, só o guitarrista abusava dos solos irritantes. De uma maneira geral Burning Spear está bem acompanhado em palco, e como revela excelente forma aos 58 anos, o concerto flui com naturalidade em direcção à comunhão rastafari pregada do palco, e recebida por corpos em movimento. Não era de estranhar a presença de gente ilustre entre anónimos, Pacman - vocalista dos Da Weasel, ou Messias - vocalista dos Mercado Negro, eram dois exemplos de gente consagrada que vinha prestar homenagem a um dos seus ídolos jamaicanos.
Burning Spear mostra uma voz bem conservada, é muito simpático, dança em palco, e estica as suas música para lá das vocalizações tomando conta da percussão. Digamos que até é uma fórmula que acaba por ser exagerada, de tantas vezes que é usada.
Mas valeu a pena, Burning Spear é uma figura mítica do roots reggae jamaicano e não desiludiu, com a sua respeitavel barba branca, boina preta, t-shirt vermelha por baixo de um colete de ganga, o cantor deixou uma excelente imagem entre os apreciadores do género.
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