Musicalmente, teria sido perfeito se o alinhamento ignorasse tudo o que se passou entre o primeiro concerto e o último. Só que assim não teria passado um dia tão bem passado à beira Tejo, e tinha-me limitado a chegar, ver o grande Howe Gelb e o seu coro gospel, beber umas cervejas no intervalo e desbundar o enorme concerto que os Strokes deram.
A realiade é que o Howe Gelb abriu a festa por volta das 18h, e os Strokes começaram já depois da meia noite e meia. Ou seja, houve muito por contar pelo meio, e a vantagem de passar tanto tempo no recinto está no convívio. Estes eventos também são importantes pelas simpáticas conversas que vamos tendo com amigos que vamos encontrando. Amigos que vemos todos os dias, outros que só encontramos em concertos, uns que vemos de tempos a tempos, outros que nos aparecem surpreendemente. Assim o tempo passa a voar, entre umas cervejas, e umas gargalhadas, entre novidades agradáveis, e histórias de outros tempos com a música em fundo. Tudo isto faz parte destas maratonas ao ar livre. Foi bom ter reencontrado amigos de longa data como Álvaro Costa, o Luís Oliveira, o Miguel Quintão, Pedro Gonçalves, Nuno Calado e tantos outros. Entre a conversa futebolística, e musical, se passa um dia em pé.
Quanto aos concertos comecemos pelo fim.
The Strokes
Concerto arrasador! A entrada ao som de "Juicebox" foi reveladora do que iriamos ter pela noite dentro, rock de nos pôr a mexer sem parar. Tocaram quase duas dezenas de canções dos seus discos e mantiveram sempre o nível de entusiasmo da plateia lá bem no alto. Claro que as canções do primeiro disco foram recebidas em loucura ainda maior.
Diga-se que durante este concerto o recinto de Santos recebeu a maior afluência de público de todos os três eventos lá realizados no último mês.
Com uma energia convincente, os Strokes assinaram um dos grandes concertos da época. Não sei se é um hábito de Julian Casablancas, mas vê-lo a furar no meio dos fãs em frente ao palco foi um momento de destacar. Casablancas no meio dos seus admiradores em sintonia com eles, de microfone na mão e cantar enquanto era tocado por todos os que ali estavam.
Depois de um encore de 3 temas, despediram-se ao som de "Take It or Leave It". Grande concerto.
Dirty Pretty Things
Com um som forte, e com uma plateia bem numerosa, mas ansiosa pelos Strokes, os DTP deram um concerto razoável. Defenderam bem o seu disco ao vivo, e tiveram que viver com o que ele tem de bom e de mau. O melhor são alguns temas bem construídos e que podem funcionar uns meses até cairem no esquecimento absoluto. Falo das canções "Bang Bang You're Dead", ou "Blood Thirsty Bastards" do álbum Waterloo to Anywhere.
O resto é som que já nos habituámos de bandas nova vaga como os Libertines, que dá para distrair mas que não sai para lado nenhum.
She Wants Revange
Entraram com "Red Flags and Long Nights", o tema que abre o seu disco. E o título até fazia sentido, já que naquela altura muitas centenas iam-se preocupando com facto de não haver televisões no recinto para acompanhar a apresentação do Benfica.
Os SWR cativam nos primeiros minutos de actuação, mas depois perdem-se nos sons demasiado calcados às suas bandas de referência. Anda-se muito à volta dos derivados de Joy Division e acaba por cair na monotomia. Se conseguissem partir dali para algo mais personalizado era capaz de resultar, assim ficam só pelas boas intenções traídas pelo seguidismo.
Los Hermanos
Estes rapazes são o tal aceno à comunidade brasileira a ver se a organização consegue mais umas dezenas de bilhetes vendidos. Fora do contexto, passaram ao lado das atenções gerais. Boa altura para enfrentar as valentes filas para o pão com chouriço ou hambúguer e jantar.
Isobel Campbell
Aposta falhada no alinhamento. A presença de Isobel em Lisboa foi pura ironia, isto na semana em que os Belle & Sebastian encataram os seus devotos no Coliseu de Lisboa. Nunca pareceu muito à vontade no seu papel de encatar a plateia meia adormecida pelo fim de tarde quente à beira rio. Apostou maioritariamente nas canções do seu aclamado disco gravado com Mark Lanegan que iam sendo identificadas com indiferança pelo público. Ainda passou por uma versão de "Love Hurts", imortalizada por Emmylou Harris e Gram Parsons, mas nunca encantou.
Howe Gelb
Merecia ter actuado no auge da noite. Howe Gelb é enorme, já o conheço de outros concertos inesquecíveis no Santiago Alquimista e no Musicais. Encarou as poucas dezenas que já estavam no recinto às 18h com naturalidade e simpatia de sempre. Apresentou as suas canções do belíssimo novo disco "Sno Angel Like You", e trouxe o coro de gospel que o acompanha nesta nova aventura. Na guitarra, ou ao piano, Gelb encanta com o seu country/gospel/blues de embalar. Por momentos há a química perfeita, o sol escaldante de Lisboa sob o palco de onde saiem os sons do cowboy Howe. Trocávamos o rio pela areia do deserto e podíamos estar num fim de tarde lá para os lados onde Gelb vai buscar a inspiração.
Abertura em grande.
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