Não sou tão entusiasta com o cinema como sou com a música. Interesso-me por cinema, tento acompanhar os filmes mais recentes, recorro a dvd's quando preciso apanhar alguma obra prima que me escapa. Mas há uma área na indústria cinematográfica que me encanta; os filmes dedicados a fenómenos musicais. Acho excelente sempre que notícia que alguém vai avançar com um filme sobre a vida de algum artista. Este entusiasmo atingiu elevadas proporções há poucos meses quando vi em dvd "Ray". Fiquei ainda mais fã de Ray Charles, e de... Jammie Fox.
Concordo com os especialistas que criticam este tipo de filmes quando apontam como vício o facto de os realizadores tentarem sempre adornar muito os dramas, e puxar o moralismo para cima.
Mas o que interessa é que no caso de Ray é como abrir uns portões em direcção a toda a obra de Ray Charles, especialmente aquela que sempre escapa à nossa geração que só conhece os hits ou a vida recente do artista.
No caso de Walk the Line mostra-nos a vida de Johnny Cash, e June Carter, desde a infância até cimentarem o casamento. E depois ficam 35 anos de vida em comum por contar, mas que todos nós que gostamos de música já conhecemos, nem que seja só um pouco.
É uma excelente maneira de descobrirmos que Johnny perdeu um irmão, que adorava, muito cedo, e que a sua relação com o seu pai foi muito complicada por o ter ouvido dizer que tinha morrido o filho errado.
Depois vem a história do primeiro casamento, do nascimento dos filhos, Rosanna Cash que também canta anda por lá, e dos factos que levaram ao falhanço do primeiro matrimónio.
Ver retratados os momentos em que Cash partilhou o palco em digressão com Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, ou Roy Orbisson é fascinante.
O mal do costume , a droga, quase levou Johnny à miséria, mas a sua amada de sempre, June apareceu quando foi mais preciso e recuperou-o para nos deixar uma imensa herança em formato de canções de formato blues / country fabulosa!
Os duetos são incríveis, e as aparições nos palcos deixam adivinhar momentos gloriosos pela América fora.
Declarou-se, e pediu June em casamento repetidamente, mas só em plena actuação o pedido foi atendido.
Como todas as grandes estrelas da história do rock, Johnny esteve preso por posse de drogas. Irónicamente, ele já falava de prisão em temas seus. Passou a saber como era por dentro.
Esse facto levou a que presidiários de todo o país se tenham rendido às suas músicas, e inundavam-no de cartas a contaram-lhe o quanto o adoravam e admiravam.
Tudo isto levou a que Cash fosse à prisão de Folsom tocar ao vivo. Esse momento do filme é de tal maneira empolgante que neste preciso momento estou a ouvir o disco "At Folsom Prison". Um enorme documento histórico de um grande momento na carreira de Cash!
O dvd fez mais estragos neste pobre autor destas linhas. De uma só vez já comprei mais cds; os duetos com June Carter, e o Very Best of The Sun Records, e claro está, a banda sonoro do Walk The Line.
É um universo apaixonante. Eu só comecei a ouvir Johnny Cash há meia dúzia de anos com ouvidos de ouvir, muito por culpa do destaque que a imprensa deu aos seus últimos discos que ia gravando de forma intensa e regular. É a fase final de uma enorme carreira.
Há todo este universo de Walk the Line para descobrir.
Pelo meio, enquanto escrevia estas linhas, aqui o inculto descobriu que o tema "25 Minutes To Go" já era cantado por Cash na prisão de Folsom! E eu que só descobri este incrível tema pelo disco ao vivo de há 3 anos dos Pearl Jam "Live at Benaroya Hall - Oct 22 2003: Acoustic Show"!!
Quem ainda não viu, compre ou alugue rapidamente Walk The Line!