Se na sexta já se sentia a temperatura a aumentar proporcionalmente à afluência de público o que dizer daquilo que se viu no sábado em Sines? Durante a tarde na praia Vasco da Gama já dava para perceber que os visitantes eram em grande número, mas quando chegou a noite a moldura humana no Castelo era arrepiante!
A organização falava em recorde de assistência da história do evento, e o caso não era para menos. Mais de 6 mil pessoas despediram-se dos concertos no Castelo ao som de Erika Stucky, K`naan e Gogol Bordello. Um número semelhante de resistentes passaram toda a noite na Avenida da Praia a dançar ao som do DJ set do Bailarico Sofisticado até às 8 da manhã.
Não só o recinto do Castelo estava completamente cheio, como as imediações apresentavam semelhante imagem com centenas de pessoas a seguir os concertos nas enormes telas que a organização disponibiliza para quem não chega a entrar.
Contagiada com o excelente que se vivia na última noite do FMM Sines Erika Stucky aproveitou para arrancar um dos concertos mais originais, e interessantes da semana. A senhora Erika é uma figura singela, nasceu em São Francisco nos E.U.A mas vive no país dos seus pais, Suíça.Tão grandes diferenças culturais explicam os devaneios com que interpreta, por exemplo, «These Boots Were Made For Walking». Com diálogos inspirados com o povo pelo meio de propostas musicas que tanto nos levavam às paisagens dos Alpes, como ao deserto com gritos de cowboys. O termo de comparação mais usado entre os assistentes era Laurie Anderson, e não vamos ser nós a desmentir.
Com uma abertura de noite tão interessante o homem da Somália tinha caminho aberto para impor o seu afro hip hop misturado com qualquer coisa próxima do reggae. K`naan não é propriamente um desconhecido de quem segue com interesse as musicalidades que o FMM aborda. Talvez por isso tenha entrado demasiado confiante e não tenha conseguido logo a empatia com o público que veio a conseguir mais tarde com um pouco mais de alma. E ainda foi a tempo de ver os sineenses de mão no ar a gesticular ao melhor estilo de 50 Cent. Acbou a sua actuação em grande estilo e assinou passagem positiva pelo Alentejo.
Para fechar o FMM Sines deste ano na sala principal do evento, o Castelo, chegaram os Gogol Bordello. Foi aí que o espaço terá registado a maior enchente de sempre, e as muitas t-shirts com referências ao punk envergadas entre a assistência prometia agitação. Já se sabia dos discos que os punks ciganos tinham grande pedalada em disco, o que não se sabia é que no palco o bando se transforma numa circo de punk/rock/pop vulcânico incendiando a plateia de uma ponta a outra, dentro e fora das muralhas! Com um ritmo alucinante, e uma energia de cortar o fôlego ao mais activo, os Gogol Bordello partem de uma proposta musical extremamente simples, e directa, para uma demonstração de como contagiar o ouvido e corpo horas seguidas sem querer parar. O líder ucraniano (há elementos de várias nacionalidades) Eugene Hütz entra em palco possuído por uma vontade maior de partir a loiça toda. Pula, grita, olha nos olhos do público, e jornalistas presentes no fosso em frente em palco, salta do palco para a primeira fila da plateia para cantar com os seus fãs e assina um concerto tão vibrante que o último fôlego é um encore com uma versão de um tema de Manu Chao, o que faz todo o sentido! Um concerto para a história do Festival, com a particularidade do aguardado fogo de artifício ter escoado da maneira mais feliz e natural que de há memória em Sines.
Os Gogol Bordello deixavam de rastos os festivaleiros mas não por muito tempo. Rapidamente a mole desceu até à Avenida da Praia e ocupou uns bons quilómetros entre o palco e as última tendas de comércio. Señor Coconut and His Orchestra feat. Argenis Brito deram música ao povo mas não convenceram porque o mote dado pelos Gogol tinha deixado o espírito a pedir mais acção, e menos instrumentalização. Mesmo assim lá pelas 3 e meia da matina mais de 5 mil pessoas dançava ao som de «Smoke on the Water» com que a rapaziada de Señor Coconut, impecavelmente vestida de fato e gravata, se despediu.
Pouco passava das 4 da madrugada quando os 3 DJ`s que formam o Bailarico Sofisticado deram início às hostilidades. A Avenida continuava cheia de gente, e quem chegou a pensar desistir e sair terá desistido logo aos primeiros sons das escolhas de discos do Bailarico. Começaram no alto da noite, com uma luminosidade luar fantástica, a dar som para dançar e foram sempre agitando as massas com propostas musicas bem escolhidas. Destaque para os momentos em que se ouviu, dançou e cantou em uníssono canções de António Variações, ou mesmo das Doce. Entre passagens por sons de África, ska, ou simplesmente rock, o Bailarico Sofisticado não só fez dançar os milhares de resistentes como agradou a todos os que andavam pelo backstage, vendo-se até um dos elementos da banda de Coconut a entrar em palco de cerveja nã mão para dançar. Já ia alto o sol quando se ouviu o hipnotizante, e irresistível, «Born Slippy» dos Underworld que ainda há poucas semanas estiveram por cá. Nessa altura vimos gente a tomar banho no mar!
Foi um fim de Festival apoteótico com o Bailarico Sofisticado a por um ponto final do FMM Sines. Até para o ano!
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