Enérgicos como sempre, os Scissor Sisters foram saudável aquecimento para o grande concerto da quarta – e última - noite do Super Bock Super Rock, da responsabilidade dos Interpol. O término do 13º SBSR deu-se com os Underworld, num tempo extra que teve na electrónica papel principal.
Coube aos Scissor Sisters a sempre excitante missão de fazer a ponte entra a luz do dia e a soturnidade da noite. Quem os viu recentemente, no Coliseu dos Recreios, presenciou no Parque Tejo o mesmo conceito de espectáculo, com menos tempo dedicado às canções mais lentas mas a mesma entrega e dinamismo de sempre. Óptima banda para festival, indiferença é algo que não se passa por aqui: quer em palco quer na reacção do público, ora em comunhão total com a banda ora a tentar imitar as danças de Jake Shears em modo trocista. Não foram tão marcantes como na data recente no Coliseu de Lisboa, mas deixaram claramente a sua marca, e merecem pontos extra por isso.
Grande concerto depois para os também nova-iorquinos Interpol, em modo de antevisão para «Our Love to Admire», terceiro de originais a editar na próxima segunda-feira. Envolvente será, provavelmente, o mais ajustado adjectivo para um espectáculo dos Interpol, tamanho é o grau de ligação entre o repertório da banda e o espírito global do público, do primeiro ao último instantes colado ao palco, às canções e à pose dos quatro norte-americanos.
A tocar presentemente com um teclista convidado, parece evidente que esta nova componente electrónica alargou fortemente os horizontes da banda, muito mais amplos musicalmente nos dias de hoje, mesmo que as novas canções pareçam, em primeira instância, mais difíceis de assimilar. Raramente trocam olhares entre si, mas tocam coesos como pouco. Vestem de negro, quase todos de fato (excepção para o look mais desportivo do vocalista Paulo Banks) e têm um baixista – Carlos D. – com o melhor bigode de todo o festival. Foram enormes no SBSR porque pegaram no melhor do trabalho conhecido em disco, moldaram-no e, sem tempo para pausas, despejaram suor e amor. Coube-nos a nós admirá-los. Grande concerto, nunca é demais repetir.
A noite – e Festival – findou ao som dos Underworld, num raro destaque no cartaz a sonoridades mais electrónicas. Houve, durante este 13º SBSR, pouca margem de manobra para bandas de cariz mais electrónica mas, e no que concerne aos Underworld, esse destaque ficou muitíssimo bem entregue. Mesmo para os que só conheciam o clássico «Born Slippy», o espectáculo dos britânicos assentou que nem uma luva na conclusão de um evento que foi, parece evidente, sucesso total e quase absoluto em matéria de concertos. A última noite acabou por ser a mais nivelada por cima no geral, mesmo que nenhum concerto se tenha equiparado às epifanias protagonizadas por Arcade Fire e LCD Soundsystem. Até para o ano, Super Bock Super Rock.
in Disco Digital por Pedro Figueiredo
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