"De um concerto dos Madredeus, apesar da familiaridade com o grupo que o estrangeiro nos ensinou a ter (é sempre assim, connosco...), espera-se que nos mova (a cada um, seu movimento). Que nos dê ânimo (a cada um, o seu entusiasmo). Que nos embale (a cada um, o seu sonho). Que nos comova (a cada um, a sua alma)".
Fernando Magalhães, Público - Abril 2001
Fernando Magalhães escrevia assim sobre os Madredeus há cinco anos atrás por alturas da edição do disco “Movimento”. Nesta altura já o Fernando era um dos nossos, ou seja, era um amigo entre amigos. Parceiro de longas tertúlias sobre música, bola, humor, mulheres, jornalismo, enfim… sobre a vida. Companheiro de muitos concertos, em trabalho, ou em lazer. Era daqueles que não trocava uma boa jantarada bem regada por nada. Com ele por perto só havia duas certezas; íamos rir a bom rir, e aprendíamos sempre qualquer coisa de novo.
Assim não era de estranhar que o Fernando estivesse presente tantas vezes em noites inesquecíveis, tantos concertos, tantas canecas de cerveja preta no Baleal, algumas sessões alucinadas de Dj em Setúbal. Era mesmo um dos nossos. Por “nossos” entenda-se como um grupo de homens e mulheres que se foram conhecendo ao longo dos anos fruto de uma paixão comum pela música. Amizades que se criaram no meio de um fórum de discussão musical na internet, o famoso Fórum Sons. Foi aí que Fernando Magalhães nos surpreendeu, deixou de ser só aquela figura lendária que aprendemos a ler, a respeitar e admirar pela sua crítica musical, para se revelar uma personagem perfeitamente acessível, e disponível para juntar um pouco da sua loucura à nossa.
Voltando ao texto sobre os Madredeus, escolhi-o porque me marcou na altura em que o li. É que o Fernando conseguia analisar um trabalho destes com o maior respeito, e máxima atenção, mas nunca abdicava das suas opiniões e não hesitava em publicá-las por muito cáusticas que fossem. Neste caso o disco até era do seu agrado, o que não evitou que numa noite de apresentação do mesmo álbum em Lisboa, o Fernando trocasse um lugar dentro da tenda aquecida, propositadamente montada para o efeito, por uma longa e animada tertúlia acompanhada por umas quantas cervejas mesmo junto à entrada.
Tive a felicidade de estar lá, assim como o amigo Vítor Junqueira, e de ver a genialidade com que o F.M. se safava das perguntas sobre o concerto ao intervalo. Um concerto que ele não estava a ver. “A Teresa está sempre bem, já se sabe como é…” Dizia ele a alguém que o abordava.
Faz hoje um ano que Fernando Magalhães nos deixou. Nunca mais o esquecerei.