É daqueles eventos que povoam o nosso imaginário ( os sub-25 estão dispensados de ler esta prosa). Quem não se lembra das noites em frente ao televisor a ver ano após ano a canção portuguesa na Eurovisão a tentar fujir do último lugar (salvo raras excepções) com os pontos da Espanha ou de França?
Eu perdi o interesse pelo eurofestival a partir do ano 1990. Sim, foi em 90 que uma representante da antiga Jugoslávia (país que também brilhava nos Jogos Sem Fronteiras, mas isso é outra conversa) deslumbrou os nossos corações (leia-se olhos de adolescentes) com uma presença inesquecível. Uma espécie de Marilyn Monroe com um justo, e vistoso, vestido rosa e salto alto a condizer. Uma imagem que marcou uma geração ao ponto de ainda hoje ser possível encontrar pela internet as imagens de tal actuação.
A juntar à fresca e ousada imagem, Tajci (um nome que não engana) interpretou uma canção do melhor pop açucarado da época, com um arranque a fazer lembrar Transvision Vamp.
Se não acreditam nestas palavras façam o favor de descarregar Cokolada, o tema em questão:
Tajci - Cokolada
Para se ter uma ideia do que estamos a falar, Tajci brilhou no ano em que Portugal foi representado por Nucha a cantar "Há Sempre Alguém".
A injustiça da votação não deu a vitória (mais do que merecida) à Jugoslávia, e o júri preferiu a música italiana, com o insonso nome "Insieme: 1992", cantada por Toto Cutugno, que fazia jus ao seu primeiro nome.
Como se pode perceber Tajci foi uma incompreendida pelos espectadores europeus, mas ficou nos coraçoes de todos os rapazes do Velho Continente. Mesmo assim acabou num honrado 7º lugar com 81 pontos, todos dados por júris masculinos, digo eu.
Já agora fica a pontuação de Portugal: 9 pontos. Mais um que Finlândia e Noruega, que ficaram em último.
Para fechar o tema Eurovisão 90, fica a cereja em cima do bolo, o video da interpretação jugoslava:
Video de Tajci - Cokolada
Eurovisão 2006
Tudo isto veio à memória muito por culpa da transmissão da edição do Festival Eurovisão da Canção 2006 a decorrer na Grécia. Calhou ver uma parte e fiquei surpreendido com o formato. O Festival está transformado numa espécie de Liga dos Campeões, hoje jogava-se a pré-eliminatória (a que eles chamam de meia final) com o propósito de afastar uns quantos países da final que decorre no sábado, e onde já estão os habituais favoritos Inglaterra, França, Israel, Alemanha ou Espanha (com um tema das Ketchup que promete fazer furor no verão).
Vejo muitas caras bonitas. Miúdas giras, com pouca roupa, coreografias à MTV, temas a fazerem lembrar Shakira (a representante da Ucrânia é mesmo a Shakira de leste!), Britney Spears (Islândia), J Lo ( Macedónia). Por falar em Macedónia, Elena Risteska é um nome a decorar, talvez a sucessora de Tajci.
Muita cor, muito ritmo, e alguma actuações curiosas. Portugal foi representado pelas Nonstop, miúdas vistosas que não destoaram e com uma canção de refrão orelhudo e em inglês, "Coisas de Nada". Título bem escolhido para o resultado final, já que fomos eliminados.
Mas Portugal é eliminado de forma pouco convincente. É claro que em comparação com a bela música (e intérprete) da Suécia ficamos a perder muito, mas eu vi pelo menos quatro países serem apurados de forma incompreensível.
A Finlândia mandou uma versão inacreditável dos Slipknot!! Mau demais.
A Lituânia é representada por seis rapazes que repetem a frase "We are the winner's of Eurovision" do principio ao fim da música(?)! Até tem piada, aliás o momento foi hilariante, mas daí a serem apurados...
Da Bosnia e Herzegovina vem um Hari Mata Hari tão chatinho que dá sono.
E da Irlanda lá veio um gajo armado em Logan com a cançãozita da tanga.
Todos estes passaram, e as nossas miúdas ficaram de fora! Injustiça.
Ou seja, apesar da imagem moderna do Eurovisão, a injustiça continua como nos bons velhos tempos de Tajci.
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