Música e chuva, ligação directa na relação dos Smashing Pumpkins com Portugal. Grande concerto a fechar o segundo dia. Antes, no Palco Optimus, The White Stripes em estreia de global apreço e Balla em boa forma, todavia algo desajustados ao espaço em questão.
«A Grande Mentira» é o melhor disco de Balla, e ao vivo as canções saem bem. Coesas, interligadas. Armando Teixeira apresenta-se em palco acompanhado da formação clássica do rock (guitarra, baixo, bateria), para além de um coro inteiramente feminino. O concerto foi competente e profissional, como esperado. As centenas de pessoas que, ainda de tarde, se acomodaram na frente da plateia reagiram bem ao espectáculo, mas ficou no ar, contudo, a sensação de que o palco Optimus foi grande demais para um projecto do cariz dos Balla. Em analogia futebolística, deu-se o chamado síndrome de jogador de créditos firmados em clubes de meio da tabela que, em disputa por lugares europeus, acaba por - sem comprometer a manutenção assegurada há muito - não conseguir elevar de forma plena a fasquia. Interessante, mas ainda não é este o ano da Liga dos Campeões para Armando Teixeira e companhia.
A estreia dos The White Stripes em Portugal era, indiscutivelmente, um dos grandes destaques da noite de ontem do Alive!. De todo o festival, por arrasto. O concerto dos manos White foi nitidamente para fãs e com um alinhamento que teve em conta ser esta a estreia da banda em Portugal. Com efeito, ouviram-se temas de todos os registos da banda, tendo sido abrangidos temas mais antigos como «Jolene» mas também, em primeira-mão, algumas novidades a incluir em «Icky Thump», a novidade que verá a luz do dia nas próximas semanas. Uma das coisas mais louváveis num espectáculo dos The White Stripes é a forma como dois músicos somente conseguem preencher tanto um palco, não só em riqueza técnica e musicalmente dirigida mas também, ponto-chave, em toda uma presença declaradamente forte e vincada. Meg, discreta na bateria, foi perfeito complemento para o pequeno-grande génio Jack, demoníaco nas guitarras e teclas, catalizador de audiências por natureza. Para o final ficou «Seven Nation Army», a prova viva de que ainda é possível, em pleno séc.XXI, fazer riffs tão memoráveis quanto frescos e intemporais. Excelente concerto.
A nova vida dos Smashing Pumpkins não podia deixar de passar por Portugal, desde sempre um país que teve para com Billy Corgan e respectivos comparsas uma enorme admiração e carinho. Aos primeiros segundos de «Today», história: muito de surpresa, a chuva fez-se notar e as memórias - para quem se lembra - de um histórico concerto, há mais de dez anos, em Cascais (à chuva também) foram inevitáveis. Ontem, no Alive!, fez-se também história com os Smashing Pumpkins. Um pouco em menor escala, evidentemente, mas ainda assim a um nível que poucos, nas suas mais optimistas previsões, arriscariam antever. Uma vez mais, um concerto para fãs - os de sempre e de todos os momentos, que acolhem um tema como «Silverfuck» como um golo da sua equipa (perdoe-se novo traço com o mundo do futebol) ou que vêem em «United States» ou «Starz» (temas do futuro «Zeitgeist») motivos para ainda nos deixarmos encantar pelos Smashing Pumpkins em 2007. Residiu aí, efectivamente, a maior virtude da epifania da noite de ontem - o saber que, lado a lado com os clássicos da adolescência de todos, há ainda um nervo muito presente e actual, que torna os Smashing Pumpkins perfeitamente válidos no panorama actual do pop-rock norte-americano. E Billy Corgan continua tão ou mais carismático como sempre. Apetece trespassar para palavras aquilo que a jovem na primeira fila constantemente filmada a chorar pensaria ao ver um sonho de vida realizado - «Fazes-me falta». Perdoai Inês Pedrosa o empréstimo, mas a verdade é que os Smashing Pumpkins provaram ontem que fizeram mesmo falta. O apreço final de Corgan por mais uma boa noite em solo luso também não deixa margem para manobras: eles também sentiram falta disto. «Zeitgeist», que é como quem diz: bem-vindos de volta.
In Disco Digital por JG e Pedro Figueiredo
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