O que o leitor procura aqui é saber se um concerto dos Rolling Stones a meio de 2007 ainda vale o esforço, e especialmente o preço do bilhete. A resposta é clara: sim, vale! Depois há os que já os viram noutras digressões, ou até mesmo nesta, e os que se estrearam ontem à noite. Para os repetentes as comparações são inevitáveis, para quem os viu pela primeira vez só pode ter saído de Alvalade satisfeito.
Assumo desde já que esta foi a terceira experiência ao vivo com os Stones, daí que tenha de cair em algumas comparações com os concertos de Coimbra, e muito especialmente com o do Dragão, já que a digressão é a mesma.
Faltam poucos minutos para as 22 horas quando, finalmente, a noite caiu em Lisboa. As luzes do estádio fecham-se e passados poucos segundos surge a figura única do «pirata» Keith Richards ao som de «Start Me Up». Todas as dúvidas à volta da performance da banda caem por terra. Só a presença dos quatro Rolling Stones ali à nossa frente, e ampliados num gigantesco écran que faz parte da monumental estrutura que é o cenário desta Big Band Tour, serve para nos emocionar e desatar a cantar e pular com Mick Jagger. Estamos a partilhar um pedaço da história do rock n’roll com lendas vivas.
A partir daqui já se sabe... Muita energia, comunicação em português, grande profissionalismo, admirável sentido de respeito pelo seu público, ontem à volta de 30 mil crentes, e uma motivação absolutamente fascinante em continuar a mostrar canções de agora e de sempre.
Então em que é que este concerto foi diferente, e o que vai ficar na memória dos que o viram? A surpresa maior aconteceu ao sexto tema quando a fadista Ana Moura entra em cena para cantar com Jagger «No Expectations». E realmente fizeram por fazer valer o sentido do título já que o momento teve tanto de simbólico como de desastroso.
Em oposição temos que destacar a presença de Lisa, senhora de uma portentosa voz com grande presença no palco onde salta com facilidade dos coros para a a boca de cena. Outra novidade foi a referência a James Brown quando apresentaram uma excelente versão de «I`ll Go Crazy». Aliás, as maiores diferenças foram a nível musical com a banda a tocar muito descontraída canções que tinham ficado de fora anteriormente. O destaque vai para a visível boa disposição de Ron Wood sempre pronto a dar contornos «blues» às versões mais longas.
De grande impacto visual continua a ser «Sympathy For The Devil». Suponho que o mais aguerrido adepto do clube que joga naquele relvado não terá achado piada ao ver o seu Topo Sul bem vermelho, a fumegar e a arder como um inferno, enquanto Jagger, e Charlie Watts, vestiam trajes encarnados. Um grande momento sempre ampliado pela som das enormes explosões com que acaba o tema.
O palco voltou a deslizar até à bancada oposta, tal como tem acontecido sempre nesta digressão, sendo o momento preferido dos fãs que ficaram cá mais atrás.
Por último falemos do ícone Keith Richards. Agora, mais do que nunca, o guitarrista goza de total admiração, e veneração, da assistência. Continua a ter direito a cantar duas músicas, destaque para «You Got the Silver», e a sua imagem é aclamada por todos. Um senhor. Uma lenda.
O factor mais negativo desta quinta passagem dos Stones por Portugal foi a qualidade do som. Fraco para quem viu o concerto mais do lado das bancadas centrais.
De resto tudo como dantes, a língua continua a encatar, e os homens insistem em mostrar ao vivo o segredo da jovialidade.
Excelente.
in: Disco Digital
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