O Rotas & Rituais arrancou em grande estilo no cinema São Jorge com o regresso dos Gaiteiros de Lisboa aos palcos da capital. Uma viagem de quase duas horas recuperando músicas do passado e lançando já algumas canções do disco novo a ser editado brevemente.
Arrancou a segunda edição do Festival Rotas & Rituais, inserido nas Festas de Lisboa, que este ano é dedicado «à Transumância, cujos trilhos uniram gados, gentes e perspectivas para além das fronteiras». Feliz escolha para a abertura, os Gaiteiros de Lisboa confessaram que já nem lembravam da última vez que tinham actuado na capital, o que não deixa de ser irónico.
A comemorar 15 anos de actividade o grupo passa por uma renovação com a saída de José Salgueiro e a entrada de José Martins. Há disco novo a sair brevemente, e um passado valioso a ser devidamente cuidado. «Sátiro», de 2006, é agora reeditado após ter esgotado a sua edição original. É precisamente no equilíbrio entre as canções dos quatro registos já editados e os caminhos do futuro que está o encanto dos Gaiteiros.
A sala do São Jorge ficou, lamentavelmente, longe de encher mas o público heterogéneo fez questão de aquecer um ambiente já de si muito quente devido à falta de ar condicionado. Alguns espectadores mais afoitos fintaram a preguiça das cadeiras e levantaram-se para dançar festivamente quando os tambores marcavam o alucinante ritmo das gaitas de foles.
Houve apenas um «cheirinho» do novo disco. «Era para ser um pivete, mas só pode ser um cheirinho», explicou Carlos Guerreiro. Foram duas canções, uma delas tem a voz de Ana Bacalhau dos Deolinda mas só no disco, porque apesar da presença na plateia da vocalista, assim como de Sérgio Godinho que também entra no novo disco, os Gaiteiros não chamaram ninguém ao palco.
Uma noite bem passada em que se matou saudades das canções de «Macaréu», «Invasões Bárbaras», «Bocas do Inferno», e «Sátiro», pelo meio com duas versões de José Afonso. Destaque para «A formiga no carreiro» que foi cantada por João Aguardela no disco de tributo «Os Filhos da Madrugada». Hoje à noite será o homem do Megafone a ser homenageado no Musicbox.
É assim que se faz a história da boa música portuguesa, e os Gaiteiros de Lisboa são uma autêntica instituição musical da nossa cultura. Mereciam mais concertos na sua cidade.
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