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31 julho 2009
Leonard Cohen no Pavilhão Atlântico - Sublime!
Uma sala cheia, mas não esgotada, acarinhou e recebeu de coração aberto o regresso de Leonard Cohen um ano depois do concerto em Algés. Um recital divino para aprendizes, recém-convertidos, e fãs de sempre, proporcionado por um ser maior e único.
Ironicamente agradeço do fundo do coração a Kelley Lynch a noite de hoje. Graças a este antigo agente, que desviou cinco milhões de dólares da conta de Cohen, o cantor teve que voltar aos palcos por necessidade financeira.
No ano passado estava eu em Sines a acompanhar o FMM e não pude estar em Algés. Agora entendo melhor o desabafo que Lou Reed teve na altura ao jornal "Expresso" a insultar os promotores dos concertos que ambos deram na mesma noite. Lou Reed ficou furioso por não poder assistir ao recital de Cohen. Hoje compreendo-o muito bem.
Em 1988 estava eu muito ocupado com a minha irreverência parvinha própria da juventude que me dizia que Cohen era algo do passado, sem interesse, e já acabado. Obviamente não estive no Coliseu.
É em noites como a de hoje que acredito na justiça divina. Leonard Cohen com paciência de budista esperou que alguém introduzisse a sua obra na minha vida já cheia de conhecimentos musicais. Sentidamente agradeço à Tia Isabel.
Conhecida grande parte da obra discográfica de Cohen chego ao recente e obrigatório «Live in London» que me acompanha há meses. Quando soube desta (última?) oportunidade para ver o mestre Leonard as expectativas subiram ao máximo.
É engraçado como se pode fazer centenas de reportagens de concertos e de repente estamos no meio de um a sentir o arrepio único que transmite ao nosso cérebro que estamos a viver um daqueles momentos únicos e inesquecíveis. Foi o que me aconteceu ao fim de meia dúzia de minutos a ver e ouvir Cohen.
Ao vivo não há surpresas em relação ao que se conhece do tal «Live in London», mas a experiência é emocionante. A figura de Cohen a arrastar classe em todos os seus movimentos, o sorriso quase infantil com tira o chapéu para receber o carinho da plateia, a ternura com que apanha da alcatifa, que forra o chão do palco que pisa, uma flor atirada por uma fã enquanto canta. O respeito com que olha e apresenta os excelentes músicos que o acompanham, o charme com que se aproxima de magnifica Sharon Robinson, sua cúmplice musical desde os anos 80, o encanto com que descreve as doces coristas, e multifacetadas, irmãs Webb, a confiança com que canta os clássicos de sempre, a peculiar posição agachada de olhos fechados a agarrar o microfone, as saídas de palco, para o intervalo e depois nos encores, feitas em passo de corrida bailada, a sapiência paternal com que nos dá conselhos e nos deseja sorte para a vida depois do encontro divino, e , sobretudo, a humildade e simplicidade com que agradece os merecidos aplausos, fazem de Leonard Cohen um ser maior e místico.
Não vi o futuro do rock n'roll como Jon Landau, mas tive o enorme privilégio de ainda ver o responsável pela origem da poesia ao serviço da música pop. E vi-o em muito boa forma.
A minha vénia, Senhor Leonard Cohen.